sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Capítulo VII - A Chegada

            Louise vive na mesma rua que eu, mas mesmo assim não éramos próximas nem nada que se parecesse com isso. Porém, pensei enquanto tentava convencer-me a continuar e bater à porta dela, ela era a pessoa mais próxima a mim, além de Lewis, e ainda por cima é mais crescida e tem mais experiência de vida do que eu, para além de ser mais velha dois anos, deve de ter paciência para aguentar com esta minha confusão e conseguir ligar uma luz para me orientar neste labirinto.
            Sentia-me constrangida por sentir que não tenho confiança suficiente com ela ao ponto de poder fazer isto, mas por vezes as opiniões que vêm de fora podem ser uma ajuda muito útil. Lewis enviara-me para o labirinto que criara com todo o seu mistério, dizia-se conhecido da minha avó e do meu avô, mas com a minha nova forma especial de saber as coisas vi que algo de errado se passou comigo e que, talvez, o prendeu a mim o resto da vida dele, a julgar pela cara que o Lewis Desdrov adolescente fez à mãe dele. Mesmo assim, para todos os efeitos, Lewis era um desconhecido, uma pessoa que conhecia só de vista por se comportar de forma tão reservada.
            - Cassie? O que fazes aqui, querida?
            Nesta altura já estava à porta dela e a voz veio do meu lado direito. Ao olhar, vi Louise a espreitar por uma janela com o cabelo prendido com um gancho branco numa espécie de carrapito que lhe deixava o cabelo aos canudos pendurado para o seu lado esquerdo sorridente como o Sol do amanhecer. Só precisaria de um fato de princesa para ser a Rapunzel do século XXI.
            - Bom dia, Louise. – Disse aproximando-me da janela.
            - Aguenta só um pouquinho, Cassie. – Disse erguendo o dedo indicador e voltando para o interior da casa. Fiquei à porta uns segundos até ela me abrir a porta, mostrando-me um roupão de Verão branco com cerejeiras a florescerem pelas bainhas até abaixo do peito e cotovelos. – Desculpa ter-te deixado à porta mas não estava decente. Entra, por favor. – convidou fazendo um gesto abrangente para o interior da casa. Passei os pés pelo tapete de entrada e dei o passo que me levou para uma casa toda feita de madeira cor de caramelo adornada de quadros paisagísticos orientais e tapetes de simples e claros floreados. Num segundo, Louise estava à minha frente.
            - Estava a preparar o pequeno-almoço, Cassie. Fazes-me companhia? – Perguntou muito animada e tímida ao mesmo tempo, como se fosse uma criancinha contente por ter visitas. Apesar de já ter comido, aceitei o convite e segui-a até à cozinha, daquelas bem coloridas e vivas. A pequena mesa para quatro pessoas estava colocada perto da janela da frente e tinha uma jarra transparente com quatro malmequeres amarelos e havia um balcão com cadeiras de bar colocadas em fila em frente a este. No fogão estava uma cafeteira a aquecer leite já a formar natas e Louise, também a ver o que se passava, foi a correr para apagar o fogão.
            - Ai meu Santo Deus, sou mesmo uma despassarada de primeira. Cassie, está à vontade, senta-te onde quiseres, querida.
            - Não precisas de ajuda, Louise?
            - Não, querida, muito obrigada. Diz-me, o que te trouxe cá? – perguntou enquanto passava o leite para duas canecas grandes também brancas e floridas.
            - O Lewis contou-me que ontem tu ficaste preocupada comigo e, bem, eu também fiquei um pouco preocupada contigo depois de termos visto aquele homem no beco.
            Louise aproximou-se da mesa dos malmequeres com as canecas, voltando atrás para pegar num prato de pão de forma torrado e num frasco de doce de morango. Pela sua expressão, ela estava mais preocupada do que quando me viu antes de entrar.
            - Eu estou óptima, querida, não tens de te preocupar comigo, a sério. Eu fiquei mesmo um pouco sobressaltada. Está bem que o Lewis me garantiu que foi uma tontura ou uma indisposição, mas não foi o suficiente para me acalmar. O que te deu a noite passada?
            - Bem… eu… tive uma tontura porque ontem não tive muito tempo para comer e então fiquei fraca.
            Ela parou de passar a colher de doce de morango na fatia de pão e olhou-me com um ar sério, de sobrancelha erguida.
            - Cassandra-Marie Gohstly, tu não estás de dieta, certo? – Perguntou. Automaticamente, arregalei os olhos.
            - Não! Estou muito bem assim. Ontem é que não tive tempo para comer antes de ir trabalhar, principalmente depois do que se passou ontem. – Ela baixou o olhar para o que estava a fazer. Aproveitei para começar a entrar no assunto que me levou ali. – Como sabes o nome dele?
            - De quem? Do Lewis? O Bryan é maluco pela Europa e esteve uns tempos em Moscovo, daí ele conhecer a família do Lewis. Disse-me que ele descende de uma família dona de um bar muito conhecido e muito bom nessa cidade.
            - Tu das-te muito bem com o Bryan, não é? – Perguntei bebendo um pouco de leite. Ela corou ligeiramente e simulou um esboço de um sorriso tímido por detrás da fatia onde tinha colocado doce de morango.
            - Bem, pode-se dizer que eu tenho um grande fraco por ele. Mas não sei se é recíproco. Às vezes parece que está interessado em mim, mas noutros parece que só me falta pregar um pontapé para o deixar em paz. – Baixou a caneca e olhou para mim num tom de timidez. – Isso é assim tão notório?
            Num segundo lembrei-me do que senti nela no primeiro dia em que fui trabalhar ao Old Burger, a preocupação que ela tinha por alguém, alguém que de certeza estava muito próximo dela. Queria contar, mas se contasse ela poderia achar-me maluca e poderia afastar-se de mim e isso não quero eu, não antes de eu tirar alguma pista que me possa ajudar a decidir. Abanei a cabeça ligeiramente e ofereci-lhe um pequeno sorriso.
            - Não é isso, apenas chamou-me a atenção a vossa relação, parece que se conhecem há muito tempo. – Menti, da forma em que a minha vida andava, nem sequer reparava quando é que Bryan e Louise estavam na mesma sala. Mas valeu a pena; as dúvidas que ela poderia estar a criar na cabeça dela pareceram dissipar-se.
            - Nós conhecemo-nos há já alguns anos e dou-me bem com ele, mas não sei, Cassie… Lembras-te de quando me deste boleia depois do trabalho?
            - Sim, foi no meu primeiro dia de trabalho. – Respondi antes de beber mais um gole de leite. Ela pousou a caneca e, com isso, a minha mente abriu-se e vi a dela. Afinal ela não é tão positiva, tipo Sol, como eu pensava: a mágoa e a solidão eram coisas que enegreciam a alegre Louise, como se se tratasse de um beco à noite a servir para um filme dramático ou de acção. Aquilo era contagioso, ela sentia-se sozinha e tão deprimida que estava sempre num estado de auto-piedade daqueles que só os que sabem ver as mentes como eu vejo é que têm uma percepção, e isso fazia com que eu tivesse também pena dela. No entanto, neste meu vislumbre, ela falou.
            - Nessa noite, quando eu estava a ir para casa, vi que algo estava errado na minha casa, mas por fora estava tudo normal. Quando entrei, deparei-me com o meu namorado sentado no teu lugar e estava a beber uma cerveja. Basicamente, quando deu conta de que estava a entrar nesta divisão, ele começou a disparar coisas muito duras e rudes, disse que eu estava interessada era no patrão e não nele, que eu só o enganava e, era isto que ele queria no fundo, não valia de nada continuar a ver uma pessoa como eu.
            À vista de uma pessoa normal, ela parecia apenas abatida, mas interiormente, ela estava a cantarolar músicas para evitar chorar à minha frente, vi que isso para ela era algo um pouco embaraçoso. Ela queria e precisava de atenção, de mimos de alguém que ela soubesse que nunca a largaria por nada, estava no seu direito, mas não queria entrar muito mais neste assunto; ela sentia que estava a conseguir ultrapassar isto e voltar a lembrar-se… da joelhada que ele lhe deu na barriga. Tentei manter o meu rosto impassível, dentro do contexto, mas ela precisava mesmo de atenção. Cheguei a minha cadeira à dela, passei o braço pelos seus ombros e encostei-a a mim, apesar de para ela ser mais complicado por ser mais alta do que eu.
            - Podes contar-me tudo, Louise. Eu não o digo a ninguém, a sério. – Até porque não tenho ninguém, guardei para mim. Ela, corajosa, continuou a guardar as lágrimas para ela, e prosseguiu.
            - Eu mandei-o de casa para fora e comecei a sentir-me estranha, nem te sei explicar. Só sei que fui para a casa de banho e ouvi algo a cair na sanita, tipo um estrondo como se fosse um quilo de açúcar a cair lá dentro, e eu assustei-me e ­­­­fui logo ver. Eu não percebi o que tinha em mim, só sei que estava tudo cheio de sangue e que estava lá uma coisa parecida com um feijão gigante e foi então que me apercebi de que eu estava grávida e que tive um aborto. Ele tinha-me empurrado contra uma parede e pregado uma joelhada na barriga.
            - Espera, ele bateu-te? – Perguntei, tentando manter um total desconhecimento do que se tinha passado.
            - Sim, e ele queria dar-me outra joelhada, mas eu dei-me uma cabeçada e mandei-o de casa para fora aos murros. Eu não sabia que estava grávida, Cassie, eu juro que não sabia nem de perto e apesar de não pretender ter filhos, eu criaria uma criança que nascesse de mim e cuidaria dela com todo o meu amor mesmo que a gravidez fosse acidental. – Ela agarrou-se a mim e começou a chorar. Eu não sabia o que fazer, mas tentei imitar a minha avó e comecei a passar-lhe as mãos pelos cabelos e deixá-la chorar.
            - Tem calma Louise. Não estás sozinha, tens o Bryan…
            - Tenho o Bryan tal como tu tens o Lewis. A diferença é que entre ti e o Lewis há algo e, no meu caso, isso não existe, nem sei se somos sequer amigos… por isso só te tenho a ti.
            Deixei-a assoar-se a um guardanapo que tinha na mesa e preparei-me para o que estava a conseguir.
            - O que queres dizer com isso do “haver algo”?
            Ela desencostou-se de mim e olhou-me num ar repreendedor de “não me digas que não sabias” num tom avermelhado no nariz e nos olhos do choro. Bem, ao menos ambas ganhávamos, eu alguma dica e ela uma distracção.
            - Não me digas que não reparaste que o Lewis está interessado em ti, Cassie!
            - Não, achas? Ele tem andado muito preocupado comigo, só isso. – Rematei.
            - Hm-hm, Cassandra, tenta lá enganar-me querida. Ele ‘tá apanhadito por ti como a abelha pelo pólen e olha que tu sabes dar luta ao rapaz. – Repreendeu simpaticamente e ao auscultar a sua mente, percebi que ela já estava a descontrair e a mente a aclarar na tonalidade de cor.
            - Como é que viste isso? – Perguntei de forma a puxar ainda mais a conversa.
            - Por favor, amiga, o jovem é totalmente protector contigo e a forma como ele te olha é muito contida mas ao mesmo tempo é muito intensa de um sentimento único. Espera lá um pouco, tu não te apercebeste de nada?
            - Não – Comecei lentamente. – Ele é muito protector, sim concordo, e é muito atencioso mas eu nem tenho tido muita cabeça para prestar atenção a isso tudo, Lousie. Eu fugi de casa uns dias depois, os meus pais são mortos assim, do nada, sem saber em que circunstâncias, tenho estado a tentar achar um ponto de estabilidade e só consigo equilibrar-me na corda porque o Lewis tem-me ajudado e muito com esta trapalhada em que me meti…
            - Bolas, mulher, e tu ainda achas que estás mal? Os meus pais despistaram-se num acidente ao qual sobrevivi e quando pus os pés cá em casa tive uma tia marada que tentou apoderar-se de tudo o que era dos meus pais e se não fosse o advogado e a tua avó eu teria perdido tudo. Tu ainda tens um homem que te ajuda.
            Como se tivesse ouvidos, o meu telemóvel começou a tocar. Não sei como, o número que me aparecia era identificado com o nome de Lewis. Franzi o sobrolho a estranhar o que estava a ver, mas atendi na mesma.
            - Estou?
            - Cassandra, desculpa interromper, mas acho que está na hora de nós irmos embora. – Disse-me ele. Louise, ao meu lado estava a assoar-se a piscar-me o olho. Felizmente, pelo que estava a perceber, as tristezas tinham-se dissipado da sua mente.
            - Está bem, dá-me cinco minutos.
            - Claro. Estás com a Louise? – Perguntou após uma pausa de dois segundos. Franzi o sobrolho a olhar para Lousie.
            - Sim, está. Porquê?
            - Podes-me passar a ela, se faz favor?
            - Sim. – Disse já a apontar o telemóvel a Louise. “O que foi?”, perguntou baixinho, “Não sei, ele quer falar contigo.”, gesticulei encolhendo os ombros. Louise também encolheu os ombros despreocupada e pegou no telemóvel.
            Desliguei-me da conversa e comecei a pensar em Louise. Ela tinha razão, não é preciso investir muito tempo em tal: Lewis age de forma diferente comigo, apesar de ser sempre muito bem-educado com todos. Mas ontem à noite ele mostrara uma face diferente, mostrou a brutalidade e a força que um homem deveria ter, mostrou-se ameaçador e quase me deixou com pele de galinha com a aura que vi. Na altura, a sua intervenção não tivera quase nenhum efeito para além da surpresa, mas agora ao pensar nisso, sinto-me como se os ossos fossem gelatina. Só espero que não tenha e lidar com aquele lado dele.
            - Toma, querida. Eu vou atender o telefone. – Disse Louise já de pé ao meu lado. Peguei no telemóvel e vi que ele não tinha desligado, por isso pu-lo no ouvido e falei.
            - Assim que possas, vem.                                                         
            - Sim, em dois segundos estou aí.
            - Essa é boa. Até já. – Disse entre gargalhadas. Assim que ponho o aparelho na mala, aparece-me Louise.
            - Não sabia que tu ias ausentar-te durante uns dias.
            O quê? Pensei que fossem por umas horas, não dias! Está bem, Lewis Desdrov deve-me algumas palavrinhas…
            - Fui combinado assim do nada. O Lewis precisa da minha ajuda e então eu vou com ele.
            - Hm-hm, pois, pois, já ouvi muita coisa, agora precisar de ajuda… é muito pouco inovador… mas serve. – Disse brincando.
            - Tu não existes, Louise. Bem, tenho de ir que ele já está à minha espera.
            Ela dirigiu-se a mim e abraçou-me de uma forma terna e carinhosa, como se fossemos irmãs e não nos víssemos há muito tempo. Surpreendida, ainda consegui retribuir o abraço.
            - Faz uma boa viagem e muito obrigada por me teres ouvido. – Disse-me.
            - Não tens de quê, Louise. Sempre que quiseres, ligas ou apareces lá em casa.
            - Claro. Mais uma vez, boa viagem.
            Ao sair porta fora, senti-me bem. Tinha ajudado uma pessoa e, vá lá, nada mau Cassandra, fiz o que as pessoas com amigos fazem. Mas ao avistar o lugar do meu carro do meu carocha, pareceu-me ver tudo menos o meu carocha.
            - O que raio andou ele a fazer parar me encher o carro de malas? – Perguntei para mim mesma, enquanto me dirigia ao carro. Quando cheguei ao lado dele, espreitei para dentro. O banco de trás estava atolado com o que me pareceu para aí cinco malas de viagem, algumas delas as que usei quando fugi de casa.
            - Desculpa a invasão, mas a viagem é longa e tive de preparar alguma roupa. – Disse Lewis atrás de mim quando menos esperava. Lá tive o segundo susto com direito a salto do dia, já que o último fora de madrugada. Mas será que os sustos ainda não acabaram?
            - Lewis, podes tentar fazer entradas mais espalhafatosas, tipo aclarar a voz ou dar passos ruidosos, algo parecido? É que gostaria de sobreviver ao dia de hoje sem mais sustos. – Ele, em resposta, continuava a olhar-me com cara de quem tentava não rir a bandeiras despregadas e eu, em resposta, tentava fazer cara de não achar piada, apesar de me dar vontade de rir. – Já agora, acho que me omitiste a parte de que íamos estar dias fora e não horas.
            Quando disse isto, ele pareceu deixar de ter tanta vontade de rir e tentou ser mais sério quando falou.
            - Desculpa Cassandra, passou-me completamente da cabeça que tinhas de avisar o Bryan, foi por isso que liguei à Louise.
            - Está bem, mas não me avisaste, é essa a questão. Mas não há problema, o Bryan já sabe, é o que interessa.
            Nem me atrevi a escrutinar-lhe a mente, sentia que tinha de poupar a cabeça para o resto do dia, por isso segui para o lugar do condutor do carro.
            - Se quiseres, posso conduzir. – Ofereceu-se Lewis.
            - No meu carochinha conduzo eu, excepto se estiver incapacitada, ‘tá? – Ele deixou escapulir duas gargalhadas que fizeram nascer irrequietas borboletas na minha barriga e um sorriso parvo na cara. Sem mais demoras, entrámos no carro e Lewis pegou no telemóvel que mais parecia o que os informáticos da minha ex-turma chamariam, numa tentativa de parecerem fixes, de “nano-mini-micro computador bué’da à frente, meu”, para depois me dar indicações.
            - Sabes o caminho para Houston? – Perguntou.
            - Eu nasci lá, portanto devo ter ainda alguma ideia. É para lá que vamos?
            - Sim, é.
             Liguei o carro e coloquei-nos na estrada. O dia era solarengo e o calor, principalmente dentro do carro, tornava-se um pouco insuportável para mim. Lewis mantinha-se normal como se nada o afectasse, nem mesmo a monotonia que conduzir em estradas rectas nos dá. No entanto, falávamos pontualmente, quando era necessário e a partir daí dizia-se uma ou duas coisas e voltávamos à fase do silêncio. Ele estava de óculos escuros, mas sentia-o a olhar-me insistentemente, porém, como não confio no meu instinto, olhei várias vezes pelo canto do olho e, pelo menos, a cara estava virada para mim, o que me deixava sempre um tanto ou quanto incomodada.
            Quando estávamos perto da entrada de Houston, cerca de hora e meia depois, olhei pela enésima vez para Lewis, que aproveitou a oportunidade.
            - Porque olhas tanto para mim?
            Fiquei atrapalhada pela pergunta, principalmente quando percebi o tom de diversão. Apesar disso, saber que a minha voz estava impassível face à pergunta e à forma como ela fora feita foi algo que me deu algum alívio.
            - Por nada de especial, simplesmente parecia-me que estavas a olhar para o meu lado.
            Demorou um segundo para me responder. Pelo tom parecia estar a sorrir.
            - Ah, isso era porque estava mesmo a olhar para ti.
            Apeteceu-me fazer algo parecido com um escândalo, mas de repente e inesperadamente, fui apanhada pela mente de Lewis, que se lembrava de um baile de escola. Percebi assim que a imagem se tornara mais nítida que aquele evento era para ele algo mesmo aborrecido, principalmente se o motivo que o levara ali se fosse embora. No entanto, todo o cenário que ele relembrava não me era estranho, tudo me lembrava a primeira e, graças aos Céus, a última vez que eu fora a um baile de finalistas, no final deste ano lectivo. Pelo menos, o palco estava no mesmo sítio, a banda era a mesma banda rasca da escola, os professores estavam na mesma mesa, a disposição das coisas era a mesma.
            Quando já estava interessada em continuar a ver isto tudo, ele interrompe a recordação, como se estivesse em sintonia comigo e dá-me mais indicações.
            - Vais sempre para Norte até começares a ver a zona residencial.
            Continuei e quando menos esperava, passados poucos minutos, ele voltou à carga.
            - Tu não tens amigos?
            Esta foi difícil e engolir, no entanto tinha de sair dali com resposta.
            - Nunca fui de ter muitos amigos. Basicamente era a esquisita da turma, ninguém se aproximava de mim.
            - Então, para ti, a Louise é-te muito especial, não?
            - Sim, é o mais próximo de amiga que tenho, pelo menos no momento.
            Quando respondi, vi-lhe na mente uma vontade de me perguntar se já tinha ido a algum baile de gala e senti que ele estava muito perto de o perguntar, por isso optei por mudar de assunto.
            - Diz-me lá uma coisa, o que vens aqui fazer?
            - Venho falar com um familiar meu que está dentro do caso que ando a investigar.
            - Então, porque vamos ficar uns dias?
            - Porque ele tem sempre a casa cheia de gente e assim damos menos nas vistas. Ele pensa, tecnicamente que o sobrinho dele vai visitá-lo porque está velhote e leva a namorada. – Explicou apontando para mim. Demorei um par de segundos a assimilar o que ele dissera.
            - Desculpa, tu disseste “namorada”? Tu queres dizer que eu vou-me passar por tua namorada?
            - Sim, mas deixa estar ele já não vê muito bem não precisas de me beijar.
            - Tu é que tens essa mania, não eu.
            - Não tenho a culpa de não me ocorrer mais nada quando temos de investigar.
            - Pois, pois. - Disse, mais ou menos desconfiada.
            O facto era que, agora que pensava nisso, relembrava as vezes em que nos beijámos, comecei a sentir uma espécie de formigueiro algures entre a barriga e o peito, como se fosse uma mão a fazer-me cócegas nessa área. Não entendia ainda muito bem o que sentia relativamente a ele, mas a minha mente já se precipitava na resposta: tu ama-lo, dizia a minha cabeça, mas não queria admitir isso. Porém, sempre que dizia a mim mesma que não o amava passava-me pela memória a noite em que ele acabara por se deitar comigo. Eu não desejava relembrar aquela noite, sentia-me envergonhada e sem jeito.
            - Lewis, tu tencionas ficar na casa da minha avó definitivamente? – Perguntei hesitante.
            - Pelo menos, tenciono ficar por um bom tempo em tua casa, sim. – Respondeu com um banal encolher de ombros. – Mas se tiveres algum problema com a minha presença, não há problemas, eu saio assim que mo peças.
            - Não, não, Lewis, não te perguntei por me sentir mal com a tua presença, era apenas por curiosidade, nada mais. Eu até prefiro ter mais alguém comigo em casa.
            Assim que disse isto, comecei a ver mal. Havia algo a passar-me em frente aos olhos que me impossibilitava de ver nitidamente, como se fosse uma cortina muito fina ou um nevoeiro mais cerrado, mas definitivamente não era encadeamento pelo Sol. Desacelerei e tentei focar a visão no ponto de fuga, mas não me serviu de muito, cada vez piorava mais.
            - Lewis, tens de levar o carro. Eu não estou a conseguir ver bem. – Informei um pouco alarmada. Ele endireitou-se de imediato no seu lugar, colocando-me as mãos no volante para endireitar a direcção.
            - Faz sinal para a direita. O que tens? – Perguntou-me tenso e numa voz contida.
            - Não sei, foi de um momento para o outro, não faço ideia o que se passou. Apenas vejo tudo como se tivesse algum tipo de tecido muito fino e transparente à minha frente. – Disse enquanto andava a passo de caracol e tentava colocar o carro no interior de um parque de estacionamento de um supermercado. Lewis ajudava-me com o volante e fomos assim até pararmos no local.
            Quando desliguei o carro, tratei logo de tirar o cinto e sair do carro. Quando estava para agarrar o manípulo e abrir a porta, já Lewis, não sei como, me abria a porta com o que me pareceu uma cara de caso a turvar a beleza dos seus olhos. Senti como se tivesse mais pena dele do que de mim e tentei recompor-me, mas não conseguia concentrar-me como se estivesse perto de desmaiar e sentisse a consciência a esbarrar até eu cair no chão. Tudo o que ele fizera fora pegar no meu rosto e olhar-me atentamente nos olhos.
            - O que estás a ver neste momento?       
            - Vejo-te muito mal, mas ainda consigo distinguir bem os elementos do teu rosto. É como se te visse desfocado.
            Ele olhava-me ainda atentamente e quando tentei concentrar-me nos olhos dele, senti-me leve e muitíssimo melhor, mais parecido com a tranquilidade com que se adormece, mas não tinha sono nenhum para adormecer. Lewis fez deslizar uma mão até à minha cintura e a outra até à minha nuca, abraçando-me sem deixar de o olhar nos olhos. Era boa a sensação de sentir um pouquinho de calor e uma paz reconfortante, como uma almofada bem cheia que envolve a nossa cabeça quando a pousamos sobre ela. Lewis ainda me olhava nos olhos muito atentamente e eu tentei, educadamente, manter os meus abertos. Só me apetecia fechar os olhos e tombar a cabeça para a frente e enterrar o rosto no peito dele…
            - Estás melhor? – Perguntou, colocando uma madeixa do meu cabelo para trás dos ombros. Muito lentamente, comecei a sentir o peso da realidade e, felizmente, uma melhor visão. Acenei, maravilhada com a forma como ele se tornava mais real.
            - Mas talvez seja melhor levares o carro, por via das dúvidas. – Acrescentei levantando o indicador direito. Ele assentiu e levou-me ao lugar do pendura, com uma mão ainda na minha cintura.
            O resto do caminho fora feito em silêncio. Apesar de me ver melhor, sentia o corpo cansado e um sono fora do normal. Lewis ia de vez em quando perguntado como estava. Reparei que ele estava ainda tenso e que conduzia muito depressa, era rápido mas muito seguro, executava as curvas na perfeição e ainda tinha o à-vontade para olhar para mim como deve de ser, tomando o tempo necessário para ter a certeza de que eu estava bem. A verdade é que chegamos ao destino em menos de meia hora, já na zona residencial. As casas eram todas grandes e exuberantes, luxuosas, com muros altos e portões com padrões de eras de ferro a subir pelo gradeamento emoldurando, por vezes, nomes de família. Lewis continuou a passar por todas aquelas casas até chegar a uma ao fundo da rua, a mais isolada delas todas.
            Era uma mansão com um grande jardim, toda cercada de altas grades envoltas em trepadeiras de rosas e outras flores em botão. O portão, ao contrário dos de outras casas, era muito simples e convencional parar dar o destaque ao jardim, que era uma espécie de labirinto com passeios rodeados de arbustos rigorosamente bem aparados e baixos que nos conduziam a um pátio coberto onde estavam no momento dois carros e uma mota. Os portões abriram-se por si, sem ninguém dizer nada e à medida que entravamos na mansão, eu via a expressão de Lewis a mudar gradualmente de tensão a fúria.
            - Está tudo bem, Lewis? – Peguntei cautelosa.
            - Está, Cassandra, apenas acho que o meu tio hoje não está muito bem acompanhado. – Tornou, dedicando-me um pequeno sorriso.
            Apesar de tudo, ainda olhava para o jardim. Era fantástico na sua simplicidade: os muros laterais já eram um pouco mais elevados que o gradeamento à frente e feitos de tijolo e já se encontravam envoltos em mais trepadeiras em flor com as pétalas a dançarem ao ritmo do vento até pousarem no chão. Altas e antigas árvores encontravam-se pontualmente nos cantos do espaço e cujas ramificações conduziam ao centro, como que emoldurando também a casa toda ela feita de madeira.
            Esta era moderna mas deveria ter sido restaurada. A fachada principal apresentava-nos duas varandas correspondendo ao rés-do-chão e ao primeiro andar, ambas simples com pilares cilíndricos igualmente envoltos em pequenos esboços de flores a crescerem por estes acima, acentuando o tom rústico e luxuoso da construção. As janelas eram altas e coloridas com cortinados brancos ladeados de outros vermelhos. Lewis desviou-se para o pátio coberto e enquanto se preparava para descer, olhou-me.
            - Estás melhor?
            - Sim, estou obrigada. Não sabia que o teu tio tinha uma casa tão bela.
            Ele lançou duas gargalhadas e respondeu ainda animado.
            - Ele sempre gostou de dar nas vistas.
            Ele parou o carro de forma a ter apenas de arrancar e seguir em frente. Levantei-me e depois de me ter posto de pé só vi Lewis ao meu lado e ouvi uma voz vinda do exterior do pátio.
            - Ah, olha só quem aqui está! – Logo a seguir, a voz tomou um corpo. O homem era da mesma altura que Lewis, mas muito mais magro e pálido com cabelos louro-platinados intervalados por uma franja metade cinzenta, metade branca como uma nuvem. Os olhos eram pura água congelada, um misto entre azul ciano e cinzento fenomenal e deslumbrante. A sua postura, apesar da magreza, era imponente, digna de um verdadeiro líder, demonstrava inteligência e a frieza de um calculista que era atenuada pela cara ligeiramente redonda e com bochechas de criança, estas por sua vez acentuadas por um par de óculos redondos de lentes um tanto ou quanto grossas. No entanto, a voz não era nem forte e dura ou fria e calma, fazia-me lembrar Louise no modo normal: exclamações acompanhadas de vozes e expressões infantis.
            Lewis agarrou-me pela cintura, colando-me a ele, no momento em que o homem se aproximava de nós com a sua camisa branca e as calças de vinco. No meio disto tudo, eu limitei-me a olhar para o homem.
            - O meu querido sobrinho, há quanto tempo que não nos víamos. – Só faltava a roupa de pirata e a pele escura de Johnny Depp para termos um Jack Sparrow na minha frente. Parado à nossa frente, o homem tinha o braço esquerdo dobrado para cima com a mão semicerrada a pender para a direita com a palma virada para cima. Lewis não me largava, aliás, ele apertava-me progressivamente.
            - Vá lá tio, cinco anos não é assim tanto tempo. Não é o tio que diz que o tempo passa num tiro? – A simpatia que Lewis transmitia era rígida mesmo acompanhada pelo sorriso. Não precisei de mais para entender a situação. – Cassie, este é o meu tio Bruno. Tio, esta é a Cassandra, a minha companheira.
            Bruno ajeitou os óculos e olhou-me de alto a baixo, muito sério. A seguir, estendeu a mão esquerda e disse, com os olhos suprimidos pelas bochechas sorridentes.
            - Olá Cassandra. Eu sou o Bruno, tio materno de Lewis. Sê bem-vinda à minha casa de férias.
            Ok, pensei lentamente enquanto apertava a mão estendida, fina, longa e pálida e me obrigava a sorrir e a agradecer, só ma pergunta, onde é que me meteram?. Como se fosse um ataque de sintonia, Lewis passou o polegar pela minha cintura enquanto cravava suavemente os dedos na minha barriga.
            - Por favor, sigam-me enquanto a Miriam, a minha empregada vem buscar as vossas bagagens. – Convidou saindo da nossa frente e começando a andar à nossa frente. Lewis, felizmente, aproveitou a oportunidade enquanto seguíamos atrás dele para me dizer ao ouvido um sussurrado “eu já te conto tudo”.
            À nossa direita surgiu uma jovem de cabelos pretos e franja recta com uma inconfundível farda de empregada que colocou as mãos juntas em frente ao corpo e inclinou-se numa respeitosa vénia. Lewis e eu, de novo em sintonia, cumprimentámo-la com um aceno de cabeça.
            - Ah, Miriam, poderás levar as malas que o meu sobrinho e a sua companhia trouxeram no seu belíssimo Carocha para os quartos, por favor? – Pediu Bruno à jovem sem parar de andar e esta seguiu para a garagem como se fosse um soldado a correr para se equipar para a guerra, mas claro, correu como uma jovem rapariga dos anos 60: passadas curtas e apressadas. – Ah, pois é… - Exclamou Bruno, virando-se de repente para nós. – Peço imensa desculpa pela minha indelicadeza, mas não perguntei se queriam ficar em quartos separados ou se queriam ficar no mesmo quarto. – Desculpou-se com uns olhinhos de fazer pena a uma criancinha.
            - Gostaria que ficássemos no quarto dos meus pais, se for possível, tio. – Disse Lewis, simples e neutro. Bruno curvou a cabeça momentaneamente e, ao voltar a erguê-la, vi algo muito perto de pesar.
            - Com toda a certeza, sobrinho querido. Nós não mexemos uma partícula de pó desse quarto. Que os céus tenham as suas almas em descanso… - Murmurou de novo, olhando para cima. De seguida, cerca de um segundo depois, olhou para nós de novo no aqui e agora e começou a caminhar para o nosso lado. – Não se esqueçam do que iam dizer, eu vou avisar a Miriam para onde levar as vossas bagagens. Com licença e perdoem-me. – Disse já quase atrás de nós. Lewis não perdia nada, mas antes que ele dissesse alguma coisa, eu dei uma ligeira cotovelada na barriga e comecei a meter conversa fiada para disfarçar.
            - E sei, já falamos. – Sussurrei-lhe com a cabeça baixa, levantando-a de seguida para o olhar. – O teu tio parece ser muito boa pessoa, tem muito bons modos e parece ser muito delicado. – Acrescentei num tom mais alto e infantil, sorrindo-lhe. Ele piscou-me o olho e dedicou-me um meio sorriso.
            - Sim, é muito bem-apessoado, tal como a minha mãe era. Fico contente por ele ser assim, faz-me sentir mais perto dela e é muito engraçado. – A normalidade da conversa tinha, ao menos, escondido a minha desconfiança, em parte partilhada por Lewis, e o pesar que vi toldar o brilho especial do olhar dele. Encostei a cabeça no peito dele passei o braço esquerdo por trás dele, apertando-me contra ele e passando com a mão direita pela zona da barriga em consolo. Em resposta, ele passava a mão pelo meu braço para cima e para baixo e pousava os lábios no topo da minha cabeça enquanto a minha mente só se concentrava nas ligeiras curvas que a mão direita captava da barriga dele. Olááá, ronronava o meu lado mais indecente, porém ainda bem que Bruno aparecera do nada atrás de nós antes que as imagens que me estavam a surgir pudessem marcar a minha memória.
            - Como ia a dizer, sigam-me por favor meus queridos. – Disse Bruno ultrapassando-nos e voltando ao modo anfitrião com a mãozinha, que de pequena não tinha nada, virada para cima e pendida para a direita. – Tenho só uma perguntinha antes de entrarmos: querem comer alguma coisa primeiro ou preferem um banhinho quentinho e descansar um pouco?
            A fome já tinha começado a afectar o meu estômago, mas havia algo naquela atmosfera que me fazia andar receosa num jogo do “esconde-antecipa”, que me fazia ocultar toda e qualquer coisa que me passasse pela cabeça e me armasse em jovem inconsciente e inocente. Não gostava de me esconder desta forma, não quando tinha alguém que me conhecesse minimamente como Lewis. Se estivesse sozinha, tornava-se tudo muito mais simples, não tinha de confiar em ninguém para me safar nem de lançar olhares nervosos para o colega e tudo o mais que pode denunciar um infiltrado. Mas tinha de vir com Lewis como se fosse um atrelado ao Carocha e brincar aos namoros para a zona chique de Houston. Perfeitamente bestial.
            Mas eu sou quase um detector de mentiras, posso ver, sentir e ouvir as pessoas como provavelmente poucos podem. Posso também me divertir por conta própria nesta investigação. Eu posso saber mais do que Lewis pode pensar, tudo o que preciso é saber o que ele quer saber desta casa e deste homem semi-homossexual. Aí, quando souber a informação, talvez possa, pelo menos deixar cair a inocência no chão.
            Para todos os efeitos e situações, algo me dizia naquele momento que eu ainda teria um papel muito importante. Não posso continuar debaixo da asa do falcão quando tenho este pressentimento e sinto o perigo a rondar a minha pessoa.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

De volta ao trabalho~!

Ohaio gozaimasu~!
como diz o bom japonês (se bem que o meu é péssimo n.n'), muito bom dia!

depois do trauma que estas férias foram (quais são as minhas férias que não o são, né?), voltei ao trabalho.
agradeço imenso a quem foi paciente e a quem me apoiou ~nyssa e leya, agradeço imenso os vossos turnurentos comentários~

enquanto vêm e não vêm novos capítulos, deixo-vos com mais uns videos da Ayumi Hamasaki (céus, estou completamente viciada n.n')

estes são do espectáculo de passagem de ano que ela faz desde do ínicio deste século e estes dois remetem para o FINAL CONTDOWN 2009/2010 ~Future Classics~

Humming 7/4, originalmente do algum My Story, de 2004


e Momentum, originalmente do album Secret, de 2006


agradeço de novo a todos e não percam este sítio de vista n.n'
beijos a todos
Shizuka ~Suse~

domingo, 11 de julho de 2010

aviso da autora

Saudações a todos.
Antes de mais, quero agradecer o feedback que tenho recebido de todos. para mim, só o facto de me visitarem já é motivo e força para continuar.
Porém, o motivo que me leva a escrever este aviso é algo que quem me é mais próximo já saberá com certeza.
mesmo assim, optei por pedir aqui as minhas desculpas a todos os que se interessam por esta história, mas por motivos pessoais, não tenho a disponibilidade que tinha e, apesar de estar a adorar o universo que crio neste cantinho, o mundo à minha volta é, à semelhança do vosso, muito complexo.
A verdade é que a força vital, a que nos faz, pelos menos, ter vontade de viver, é uma coisa escassa em mim, sempre o foi, sempre senti que não tinha nada que se considerasse, no mínimo, importante para alguém e, outra verdade - pelo menos para mim - é que quem me rodeia está sempre a mostrar-me isso.
Pela segunda vez na minha vida, confiei cegamente no intuito de ter uma amizade que pudesse ser mais profunda, e pela segunda vez, isso desapareceu como a água desaparece do chão num dia de Sol esplendoroso ou a alegria de qualquer natureza é abalada com uma tragédia.
A tristeza que entrara na minha alma e a solidão que faz a cerejeira da minha vida perder todas as sua pétalas fazem-me perder a vontade de escrever. além disto, a fase em que me encontro é uma fase evolutiva que me está a tirar muito do meu tempo livre, pelo que, tudo junto, me impede de escrever.
Isto continuará até, espero eu, ao fim de Agosto. Até lá, espero poder ter oportunidade de continuar a traçar o destino de Cassandra e Lewis.

No processo em que me encontro, tento reanimar o meu espírito, e a sugestão que deixo é a minha ajuda neste processo.
Para além de gostar imenso de rock, o Japão é o meu mundo para lá de pessoal e intransmissível e esta senhora que proponho que ouçam é a minha heroína nipónica.
Ayumi Hamasaki tem perto de 33 anos e é a rainha da pop japonesa. a sua história de vida comove-me pela positiva por ser, de certo modo, idêntica à minha. a sua voz e a sua música são os ingredientes de uma terapia que provoca algo extraordinário em mim.
o video que vos deixo é uma preview do novo single, a sair dia 14/07.
Moon contém ainda o formato "Blossom" outra música a sair no mesmo dia.

mais uma vez, lamento que este aviso tenha de ser colocado aqui, mas, por outro lado, tudo isto é preciso na nossa vida.
nao percam a vossa força.
Beijos a todos
Shizuka ~Suse~

Capítulo IV - A Aproximação

        Cheguei a casa com um sentimento de medo a importunar-me sem interrupções. Sentia-me constantemente vigiada e tinha medo de Lewis. Podia ser paranóia, mas não se consegue pensar muito quando temos uma espécie de disco riscado a repetir sempre a mesma frase, que só por acaso é uma chamada de atenção à confiança que se deposita nas pessoas com quem convivemos, e a mim estava a tirar-me a energia toda.
            Por isso, obriguei-me a somente arrastar-me até ao quarto e deitar-me na cama e dormir até não me der para muito mais. Lewis estava no quarto dele no portátil, consegui percebê-lo por o ouvir a teclar, por isso simplesmente ignorei-o e fui directa ao meu quarto. Estava tudo silencioso quando entrei e deitar-me na cama foi uma coisa tão apaziguadora que me permiti a fazer algo que não fazia há meses: sonhar acordada. Coisa que não durou muito tempo, pois só me lembro de me imaginar na noite em que fugi de casa, em chegar à porta e, ao abri-la ver a minha avó sentada numa cadeira de balouço a ler Jane Austen e a saudar-me com um sorriso, a abraçar-me consoladoramente e oferecer-me auxílio deixando-me ficar em casa dela.
            Depois de um borrão negro, comecei a sonhar, desta vez com a minha avó há dezassete anos. Não sei nem como nem porquê soube disso, mas a verdade é que, instintivamente soube que fora no ano em que nasci ou numa data próxima. A minha avó estava no jardim a colher flores enquanto esperava por alguém até que, do nada, ouviu uma voz calma e límpida, cristalina e delicada.
            - Olá de novo, amiga Janette.
            Ela levantou a cabeça e deparou-se com uma mulher linda, alta e magra, com cinturinha de vespa, acentuada por um vestido cor de pérola de manga comprida e tão leve e esvoaçante como o lenço em volta do delgado pescoço, e longos cabelos que chegavam até às ancas castanhos como chocolate com tons vermelhos como se se misturasse com doce de morango, independente da luminosidade. A cara era pequena e tinha uma testa um pouco longa ocultada por uma franja muito espessa e longa, mas que mesmo assim deixavam a descoberto um par de grandes olhos castanho-avermelhados rodeados de longas e abundantes pestanas negras deixando um olhar triste, mas sensato, observador e cheio de sabedoria, que chegava aos lábios ligeiramente carnudos e tão rosados como as flores de cerejeira. Na mão direita, de dedos longuíssimos, delgados e pálidos, tinha um jovem rapaz de cabelos até aos ombros um ou dois tons mais escuro que o da mãe e franja também longa aberta ao meio, mas que mesmo assim ia rebeldemente para a frente. Os olhos eram doces, redondos e escuros como os da mãe, com a diferença de que o nariz tinha uma ponta redonda e muito querida e os lábios conseguiam ser ainda mais sorridentes que os da senhora que sempre que se abriam num sorriso eram numa versão mais digna de uma tentativa de se alegrar.
            - Bem-vinda à minha casa, Linda. Vejo que trouxeste o teu filho. – Retorquiu a minha avó nada assustada com a repentina aparição e colocando uma rosa encarnada no pequeno monte que fizera. Enquanto o pegava, a pequena cancela do jardim abria-se para a mulher e a criança, que caminhavam com calma. Parecia que o tempo passava com pouquíssima importância para estes. Assim que a minha avó chegou perto deles, ouviu-se um choro vindo da varanda.
            - Desculpem, a minha netinha está com fome, provavelmente.       
            - Ela já voltou a casa? – Perguntou a mulher com a sua voz suave como seda e delicada como uma escultura de gelo, uma voz mais digna de se ser comparada com o gelo do que com a seda, dada a intemporalidade que só a figura física da mulher transparecia. O rapaz olhou para a varanda interessado.
            - Sim, Linda. Os pais mudaram-se esta semana para cá e pediram-me para tratar da Cassie.
            - Eles têm piorado.
            - Sim. – Respondeu a minha avó já não tão animada. – E ela está um pouco atrasada no seu desenvolvimento…
            Linda, a visita da minha avó, olhou para o rapaz.
            - Queres ver a Cassandra?
            O rapaz levantou a cabeça e olhou para a mãe, com um brilho a iluminar os olhos queridos e vivos, e acenou-lhe afirmativamente sem dizer nada e nem mostrar um sorriso. A minha avó sorriu e foi na frente.
            - Por favor, façam favor de entrar e perdoem-me a simplicidade da minha casa. – Disse ela para as visitas.
            Uma ligeira gargalhada acompanhou o sorriso de Linda.
            - Não te preocupes, Janette. A simplicidade é a chave da felicidade.
            No sonho que estava a ter, senti um avanço na acção, pois de repente deparei-me com todos na sala de estar com a varanda aberta a deixar a brisa do Verão entrar carregada de um perfume intenso de rosas e violetas. A bebé, que aparentemente era eu, não parava de chorar e espernear enquanto a minha avó tentava alimentar-me com o biberão.
            - Senhora Janette. – Chamou o rapaz com uma voz tão delicada como a da mãe mas que carregava uma nota de força, de vida. – Posso pegá-la?
            A minha avó olhou para ele e, com um sorriso, pousou o biberão na mesa de centro e chegou-se ao jovem com um sorriso terno.
            - Claro que sim, Lewis. Toma, mas tem cuidado para não a apertares muito. Ela não gosta de se sentir muito presa.
            De certa forma, espiritualmente falando, senti os meus olhos a arregalar. Como?
            Continuei a olhar para a cena, o meu corpo acabado de nascer a ser entregue ao jovem Lewis Desdrov que, por mais estupidamente incrível me parecesse, pegou-me com tanta delicadeza que nem consegui achar termo de comparação. Ao acomodar-me nos seus braços, beijou-me delicadamente a testa e acalmei-me, enroscando-me ainda mais no seu ninho e respirando profundamente.
            - Ela é linda, Janette. – Comentou Linda, pondo uma mão no ombro de Lewis. Em resposta, este olhou-a quase com surpresa e receio. A mulher sorriu e verbalizou.
            - O que te atormenta, filho?
            - Queres dizer o que penso o que queres dizer? – Perguntou um tanto ou quanto surpreendido.
            A mulher acenou para o filho.
            - Sim. – Olhou para Janette e disse: - A tua netinha fora feita para o meu filho.
            - Eles são… - Iniciou a minha avó de olhos esbugalhados e com uma mão em frente da boca, sem conseguir acabar a frase. Em resposta, Linda voltou a acenar.
            No silêncio maravilhado da minha avó, neutro de Linda e surpreendido de Lewis, senti o calor-frio deste enquanto me alimentava e deixava-me a repousar nos seus braços. O sorriso era do mais contido que já tinha visto, mas os olhos, de novo cobertos com a cortina rebelde do seu cabelo enfranjado, não conseguiam de forma alguma esconder o que lhe percorria a alma, tornando o brilho dos seus olhos em dois faróis de alegria. Percebi que, para ele, o resto do mundo não existia, principalmente quando a sua mãe lhe confirmou a sua suspeita, coisa que ainda não entendi o que era.
            Do nada, a imagem de Lewis a sorrir-me e a cuidar de mim ficou retida e começou a esbater-se enquanto ouvia a sua voz jovem e viva a repetir a mesma frase sempre que sentia os olhos a fecharem-se pesados de sono.
            - Um dia… Vou esperar por ti…
            Quando deixei de ouvir a sua voz foi no momento em que acordei, desta vez sem me sentir assustada. O quarto estava silencioso e tão calmo que me permiti manter acordada. Remexi-me na cama até ficar de barriga para o ar e pus um braço sobre a testa enquanto observava o tecto colorido de tons de rosa graças à cobertura do dossel. Não estava a entender nada do que se estava a passar desde que fugi de casa: Lewis apareceu do nada em casa assim que chegara da fuga e tencionava acabar comigo e mesmo assim ficou a viver comigo pouquíssimos dias depois da minha travessia, os meus pais morrem passados poucos dias de nos termos instalado, sou arrastada, de certa forma voluntariamente, para uma investigação que me fez presumir que afinal o meu companheiro de casa poderá ser um assassino em série, ter um encontro muito precário e estranho com a pessoa que, provavelmente atacou a minha mãe e fez com que ela me odiasse até ao fim dos seus dias, e com uma mulher que quase me ia matando com as tripas a entupir a garganta, e isto tudo acrescido com as bizarridades que se têm passado comigo mesma desde disto tudo, ou seja, o facto de conseguir ver o coração das pessoas, literalmente falando, acompanhadas de vagas ideias do que poderia passar-se na cabeça das pessoas, o que equivale às emoções das pessoas, e agora conseguir ouvir pensamentos, e neste último ponto é de se acrescentar que só funciona com Lewis até ao momento, pois a experiência ainda não fora realizada noutros ratitos de laboratório.
            Em suma, concluí que estaria a precisar com carácter urgentíssimo de um colete-de-forças ou de um valente murro na cabeça para matar a minha imaginação galopantemente fértil. Ou isto, ou então estava mesmo a ter… poderes?
            - Ai céus, céus… - Desabafei num sussurro. – Estou a ficar maluquinha, só…
            - Que se passa para dar contigo em maluca? – Perguntou Lewis da porta do meu quarto. Lancei um pulo e um grito de susto, sentando-me de seguida.
            - Que raio estás a fazer acordado? Isto já passa do quê, duas da manhã? – Perguntei olhando para ele com dificuldade por falta de luz. Só lhe conseguia ver a silhueta e em resposta, vi esta a simular um encolher de ombros.
            - Estava para ir à cozinha beber um copo de água quando te ouvi a falar. – Encostou-se à ombreira da porta e cruzou os braços. Lá fora, as nuvens deixaram a descoberto um quarto minguante pálido e luminoso que entrava no quarto, mas sem chegar a Lewis, para minha tristeza. – Sabes, falar sozinho não costuma ser bom presságio. – Continuou um tanto ou quanto divertido.
            Baixei o olhar par a colcha por um segundo. Xiii, acertaste na mosca!, pensei num tom divertidamente triste.
            - Assim sentenceia a sabedoria popular.
            Sem dar por nada, senti um peso moldar o colchão aos meus pés. O quarto minguante estava de novo coberto pelas nuvens e, da forma que sentia a vista cansada, continuava sem ver nada à frente que fosse mais detalhado que uma mera silhueta.
            - Tu não tens estado bem, pois não? – Perguntou.
            - Têm-se passado coisas estranhas comigo, Lewis.
            - Queres falar? – Indagou. Abanei a cabeça em resposta, sem dizer palavra.
            - Entendo. – Calou-se por uns segundos. – Tens medo?
            - Do quê? – De estar perante um desconhecido que acolhi na agora minha casa? De estar a ficar doida?
            - De teres de enfrentar isto tudo sozinha. Tens de gerir uma casa, um emprego, uma vida de adulto e ainda és uma adolescente.
            Foi a minha vez de encolher os ombros.
            - Isso é o menos para mim. Sempre me chamaram de incompetente e me acusaram de não ser capaz de me endireitar na vida, mas estou contente por, até agora, estar a conseguir dar conta do recado. Isso não me afecta.
            - Isso afectava-te mais se estivesses sozinha em casa?
            - Sem dúvida. Não gosto muito de estar muito tempo sozinha.
            - Foi por isso que me aceitaste em casa?
            - Basicamente tu instalaste-te sem convite.
            - Mentira. Tu quiseste que ficasse.
            - Porque tu convenceste-me com a história de que tu querias o meu bem e me querias proteger e que, como tal, não te importavas ficar cá para garantir isso mesmo.
            Ele sorriu, com curtas gargalhadas, e aproximou-se de mim.
            - E tu ainda és muito fresca nestas coisas. – Disse num sussurro. – Tu és muito inocente ainda.
            - Prefiro egoísta a inocente.
            - Prefiro inocente a egoísta
            - Porquê?
            - Porque me faz sentir mais capaz de te proteger.
            - Oh, não gostas de te sentir um objecto, neste caso, do meu egoísmo? – Perguntei em tom de brincadeira.
            - Por certas e determinadas pessoas, só de me ver nessa situação, fico com vontade de as matar. Mas tu és, sem quaisquer dúvidas, uma excepção.
            Encolhi as pernas e abracei-as de forma a por o queixo sobre os joelhos.
            - De forma negativa, suponho eu. – Disse na brincadeira.
            Senti nele um corte na diversão que fê-lo aproximar-se ainda mais de mim, até ficar sentado ao meu lado. Pôs uma mão na minha face e virou-me a cara para ele, deixando-nos tão próximos que sentia a sua respiração.
            - Enganas-te, Cassie. Tu és uma excepção a todos os níveis, mas sempre, sempre, pela positiva. E antes que digas alguma piada, sim, posso também preferir egoísta a inocente, porque o egoísmo seria o teu e só nessas condições é que aceitaria esse conceito e me submeteria a ele. – Parou um segundo para recuperar o fôlego, deixando-nos absorver as suas palavras. – Tudo desde que me colocasse ao teu lado, Cassie.
            Ficámos os dois a olhar um para o outro, aliás, eu fiquei a tentar perceber onde estavam os seus olhos no rosto que tinha à minha frente graças às espessas nuvens que passeavam languidamente em frente da lua, até que ele prosseguiu.
            - Sim, tu tens medo de algo. Sentes-te infeliz porque nunca tiveste ninguém a tempo inteiro para ti e quando a tiveste foi até há dois anos. Hoje sentes-te ainda mais infeliz e receosa de tudo por já não teres o ombro da tua avó, porque todos aqueles que tomaste como sendo talvez amigos deixaram-te a meio do caminho e porque te sentes como um chinês acabado de chegar à América sem ter tido aulas de inglês antes de chegar. Sentes-te capaz de chorar a qualquer hora porque carregas muita solidão. Precisas de desenvolver a tua capacidade de amar mas nunca sequer te deram um pouco de amor…
            Pôs um travão no seu discurso quando não consegui aguentar mais ouvi-lo. Numa espécie de birra, deitei-me de lado e fiquei assim quieta a experimentar mais uma vez o salgado das lágrimas. Desejei que ele fosse compreensível e me abraçasse, que se deixasse estar comigo até adormecer, pelo menos, porque ele estava a expor todas as minhas verdades, aquelas que nem a nós próprios somos capazes de confessar por serem coisas fúteis, desnecessárias ou infantis.
            Depois de me pôr a soluçar, ele deitou-se ao meu lado sobre os cobertores, colando o seu peito nas minhas costas, enroscando um braço na minha cintura e pondo a cabeça ao lado da minha.
            - Lamento por te ter feito chorar, Cassie. Por favor, perdoa-me ser assim.
            - Assim como?
            Demorou um segundo até me acalmar passando a mão que tinha livre por baixo do meu pescoço, pousando-a na minha face esquerda. Passou com o polegar na minha cara abaixo do olho de forma a secar as lágrimas e sussurrou ao meu ouvido:
            - Nada. Esquece.
            Acenei lentamente e tentei acalmar-me. Quando deixei de soluçar e tremer perguntei-lhe:
            - Posso-te pedir um favor?
            - Claro que podes. Diz.
            - Poderias continuar com o que estavas a dizer?
            Ele remexeu-me de forma a ficar a olhar para mim.   
            - Mas eu…
            - Tu nada, Lewis – Cortei apontando o dedo para ele. – Tu deixaste o que estavas a dizer a meio.
            - Está bem. – Disse com um suspiro. – Por onde queres que vá?
            - No ponto onde ficaste.
            - Então posso começar por uma pergunta?
            - Claro.
            Ele pegou-me pela cintura e virou-me até ficar de barriga para o ar e cara a cara com ele com uma facilidade que em vez de parecer constrangida, lancei uma cara de estranheza. Como conseguia ele fazer aquilo como se levantasse uma cadeira?
            - De que tens medo? – Desviei o olhar e estava prestes a virar a cara quando ele me pegou pelo queixo e fez-me olhar para ele. Finalmente conseguia ver a cara dele. – Por favor, não desvies o olhar.
            - Queres mesmo começar com essa pergunta?
            - Agora quero.
            - Tenho medo de tudo, generalizando, porque não sei o que se está a passar comigo.
            - Queres falar sobre isso?
            Deveria falar sobre algo que era arriscadíssimo para a minha reputação? Ele era uma pessoa já adulta, de certeza que iria reagir como se estivesse a lidar com um manicómio quando lhe dissesse que ouvia os pensamentos que lhe passavam pela cabeça. Por falar em ouvir coisas, tentei ouvi-lo apesar de não estar a acreditar, e de facto tudo o que via era tudo o que ele estava a associar com o seu toque sobre mim, mas numa versão muito cor-de-rosa, sem exageros pois tudo o que estava a captar era, tão lamechas, tão romântico, que só me veio isto à cabeça. Mesmo assim decidi ir pela defensiva até ter mais certezas, e mesmo para não perder a segurança decidi dar alguma utilidade àquele fruto da minha imaginação: manter-me atenta a qualquer alteração da versão dreamland do presente segundo Lewis Desdrov.
            - Não prefiro ir por aí, Lewis. – Disse por fim.
            - Então queres ir por onde? – Perguntou inexpressivo.
            - Porque vieste para aqui? Porque optaste por me seguir, salvo seja, e por consequente instalares-te aqui? Porque me está a parecer que essa tua profissão está muito próxima de ser considerada uma farsa? Como me encontraste? – Disse de rajada. À medida que ia perguntando, ia vendo nitidamente o cor-de-rosa a sumir-se na mente dele, à semelhança do que se vê quando se está a cair de uma grande altura: tudo a correr na vertical, de baixo para cima. De seguida algo trespassou-o: dor misturado com ternura, proteccionismo e compaixão. Fechou os olhos por um segundo e quando os abriu consegui ver um pesar que poderia ser digno de quem sofre há anos.
            - Lamento, mas não consigo responder a essas perguntas. Tudo o que posso dizer é que estou a cumprir uma promessa que fiz à tua avó e que, de certa forma, eu tenho estado atento à tua localização. – Fechou os olhos enquanto pensava prometi-o à Janette e a mim mesmo, não mo faças dizer agora, não ainda… . Como estava demasiado concentrada, dei por mim a dizer.
            - Ainda não?
            Ele ficou a olhar para mim e nesse segundo em que os nossos olhares se fincaram um no outro ouvi: Não podes ter-me ouvido. Isso só te aconteceria daqui a algum tempo. Por favor, que ainda não me ouças. Aclarei a voz e tentei remediar o mal.
            - Quer dizer, não me podes responder… ainda?
            Um suspiro percorreu-lhe a mente e o rosto suavizou-se, mostrando-me que afinal tinha ficado tenso.
            - É isso, Cassandra. Ainda não to posso dizer.
            - Então, o que te leva a achar que tenho medo?
            Ele pegou na minha mão e pousou-a de palma aberta na sua face. Fiquei maravilhada com o toque e o gesto que tudo o que consegui fazer foi olhar para o lado que a minha mão estava a tocar. Nunca havia experimentado algo parecido, alguém pegar na minha mão e colocá-la na sua face, e terem-me feito isso agora comoveu-me positivamente deixando-me perto de sentir algo em mim a explodir suavemente.
            Ele notou a minha possível cara de parva apanhadinha do clima e pegou na minha outra mão, colocando-a sobre a outra face. Passou uma perna por cima de mim para poder ficar de joelhos sobre mim sem me espalmar com o seu peso – coisa que não me importava nada que acontecesse – e ficou a olhar para mim enquanto eu ficava a olhar para os seus olhos tão ternurentos como os que vi no sonho, tão cheios de sentimento que só contribuíam para que me comovessem a ponto de me deixar a chorar.
            - De que tens medo, Cassie? O que te leva a desconfiar e a recear-me? O que te faz parecer dura e um tanto ou quanto desprovida de sentimentos quando o que o teu coração mais anseia é isto? - E reforçou a última pergunta virando-se de repente comigo junto para ficar em cima dele. Sem saber exactamente como, não tinha tirado as mãos da sua cara e ele nem se importou com o facto de ter-me a experimentar um simples toque que era simplesmente íntimo demais para duas pessoas que apenas dividem a casa. Pegou no cobertor da cama e cobriu-nos com ele, aconchegando o meu corpo contra o dele.
            - Não me vais responder?
            Não conseguia dizer nada e fazer pouco mais do que manter a sua cara entre as minhas mãos e olhar para os seus olhos, pelo que ainda consegui acenar com a cabeça. Em resposta, ele sorriu mostrando aqueles dentes tão claros como a lua.
            - Nós já nos beijámos duas vezes, mas ainda não tinhas descoberto nada. Eu compreendo que estejas assim.
            - Mas isto é constrangedor para ti, Lewis. Não devias deixar-me assim tão perto de ti, eu sou um íman de desastres.
            - Constrangedor? Porquê? – Tornou, sorrindo-me de novo e começou a fazer-me festas à cara.
            - Ora, porque tu não és tão inexperiente como eu e isto acaba por se revelar em algo estúpido e digno de atrasadinhos mentais.
            Ele começou a rir. Eu comecei a franzir o sobrolho.
            - Quem te disse isso?
            - A tua idade.
            - Que saiba, a idade não tem cordas vocais. – Estava prestes a bufar-lhe de impaciência quando aproximou a minha cara da dele. Deixou-me sem ar e de olhos arregalados e suponho que o meu coração teve um colapso quando me sussurrou ao ouvido: - Não sou assim tão experiente, como tu dizes e não me refiro somente a relações amorosas.
            Consegui fazer com que os olhos voltassem à sua abertura normal, mas estes mentalmente estavam ainda arregalados.
            - Quando tencionas matar-me ou fazer-me alguma coisa prejudicial?
            Ele manteve as nossas cabeças juntas e perguntou com uma voz nitidamente estranha.
            - O que te leva a dizer isso? Eu não te quero magoar, Cassie.
            - Então, porque do nada te dá para seres tão... íntimo e mesmo assim consegues ser tão distante?
            Ele suspirou e conduziu a minha cabeça para o seu peito, rígido e simultaneamente macio graças a um pijama azul igual ao céu limpo de uma manhã de Verão e passou-me a mão pela cabeça, alisando-me os cabelos.
            - Eu ainda não posso ser-te tão sincero como queria ser contigo. Perdoa-me esta lacuna, mas só posso garantir-te o que te tenho garantido desde que nos conhecemos…pessoalmente.
            - Tantos segredos que escondes, Lewis… tantos segredos que carregas…
            - Tem tanto peso em mim como a dor que carregas tem em ti. – Beijou-me na cara e fazendo festinhas na nuca sussurrou-me ao ouvido com voz ronronante. – Dorme descansada. Não estou aqui para te magoar, juro. Eu quero a tua segurança e a tua alegria, nada mais desejo e nada peço em troca.
            Virei a cara para o pescoço dele e disse-lhe.
            - Isso sim, é que é uma grande missão­. E se conseguires isso, poderás morrer descansado. – A minha respiração  ia de encontro ao seu pescoço como ele não esperava por esta, pensava eu, ele arrepiou-se da minha brisa que a minha fala produzia e embatia no seu pescoço. Em resposta, ri-me com gargalhadinhas baixas, tímidas e curtas.
            - O que foi?
            - Nada. Apenas achei giro tu arrepiares-te com a minha respiração.
            Ele continuou a alisar-me o cabelo lentamente enquanto me apertava contra ele, ainda mais ternamente.
            - É o que dá ter-te comigo. Vá, agora tenta dormir.
            - Não me apetece. – Retorqui.
            Ele lançou uma gargalhada leve e baixa.
            - Mas tens de dormir. – E ao dizer-me isto, ficamos ambos em silêncio a ouvir a brisa de Verão a ribombar no exterior, brincando com os ramos das árvores de cerejeira que estavam no fundo do quintal da casa. A lua lembrara-se de se destacar das nuvens iluminando-nos aos dois tão carinhosamente como se fosse um terceiro cobertor.
            - Posso só fazer mais uma pergunta antes de me apagar por completo?
            - Claro. Faz favor.
            Inspirei fundo e deixei passar só uns segundos antes de perguntar
            - Porque insistes em ter tanta compaixão comigo?
            - Eu não sinto qualquer tipo de compaixão por ti. Eu tenho é paixão.
            - Deves estar a delirar de falta de ar ou algo do tipo, Lewis.
            - Isso querias tu, mas não, até que estou muito bem assim obrigado. – Disse a rir.
            Quando dei por mim, estava uma brisa invadir o quarto e pétalas da cerejeira perto da janela a acompanharem suave ventania.
            - Bolas, vou ficar com o quarto todo floreado. – Resmunguei, sem sequer me lembrar de que Lewis estava debaixo de mim. Só me lembrei quando ele me apertou contra si, pegou na minha mão direita e esfregou-a delicadamente na sua face.
            - Não sejas tão resmungona logo de manhã. É para te dar vida ao quarto, precisas de animar. – Disse num volume normal e com um tom animado.
            - Pois, pois, Lewis. Não estás interessado em limpar o quarto, pois não?
            - Até que eu gosto de vassouras. – Sem querer, fui invadida por uma imagem de uma série de cabos de vassoura colocados de pé e Lewis, adolescente, com um deles na mão, pronto a atacar os outros que estavam de pé. Fechei os olhos e fiquei tensa com a visão repentina. Não precisava de recordações logo pela manhã.
            - Estás bem? – Perguntou, largando a minha mão.
            - Sim, estou. – Levantei-me e deixei-me ficar sentada com uma mão na testa. – Apenas me deu uma tontura. Talvez tenha de ir comer alguma coisa… - Levantei-me e comecei a procurar os chinelos. – Queres que te traga alguma coisa para com…
            - Não. – Disse com veemência ao agarrar a minha mão e cortar com o que estava a dizer. Olhei para trás e vi dureza na cara dele. – Tu não estás com tonturas, Cassie.
            Fiquei a olhar para ele. Sem querer, ele tinha acertado na parte em que eu não tinha tonturas, mas tinha de me manter na defensiva. Sustive o olhar dele com a melhor imitação de confusão que consegui e tornei-lhe a palavra.
            - Não? Mas eu senti agora uma tontura mesmo, antes de me levantar…
            Ele sorriu, um daqueles sorrisos que não são de divertimento. Era um daqueles que mostravam confiança, arrogância, que sabiam muito.
            - Não. Isso não são tonturas.
            - Não? – Tornei a perguntar.
            - Não. Isso é audição a mais.
            Virei a cara para não denunciar mais nada. Calcei os chinelos e baixei o braço que ele segurava. Ele largou-o, mas não olhei para trás, muito menos lhe respondi. Ele voltou a alcançar-me na porta do quarto para o corredor, agarrando-me por trás.
            - Não te faças de desentendida. Tu ouves o que eu penso e pressentes o que eu sinto. Porque não o dizes logo?
            - Porque raios te deu para te pores a ver o mundo como uma saga sobrenatural?
            - Porque, Cassandra… - Baixou a cabeça e a voz para me sussurrar ao ouvido, como se fosse um segredo. - … O mundo é mais sobrenatural do que as criaturas sobrenaturais. E tu, minha querida, estás a começar a descobrir esse lado que pouquíssimos entendem.
            Estava prestes a beijar-me o pescoço quando eu preguei uma cotovelada na barriga e aproveitei o facto de ele ter folgado o abraço. Fui até ao corrimão que levava para a escadaria e, ao virar-me para ele, vi-o normal, a olhar-me com um olhar indecifrável. Foi ao ver a indiferencia dele que me apercebi de que o cotovelo com que batera na sua barriga estava a doer.
            - Tu não sabes nada. – Disse-lhe enervada.
            Sei pois, por isso é que me estás a evitar. Ah! E já agora, tu és muito fraca, não me magoaste nada.
            Era o que ele queria que respondesse ao que ele pensava! Lancei uma cara séria, curzei os braços e esperei pela resposta. Ele não me disse nada e eu arqueei uma sobrancelha.
            - Então? Tencionas ficar aí, calado? É que eu não ouvi nada se já me respondeste. – Mais dois segundos. Desisti e comecei a descer as escadas.
            Podes enganar muita gente, menos a mim, Cassandra.
            Comecei a resmungar muito baixo enquanto desci as escadas e ia para a cozinha. Enquanto preparava uma tigela de cereais ou müsli, nem sei bem ao certo, ouvi o chuveiro a abrir-se no piso de cima e estava a ser mentalmente torturada. Lewis estava a lembrar-se de mim na manhã em que a polícia apareceu e ele foi à casa de banho chamar-me, da forma como estava e a vontade de sorrir que ele tinha quando me viu.
            Estava sinceramente a passar-me com esta minha nova bizarridade, mas tentei pensar em algo enquanto comia a tigela de cereais, tudo para não ter me focar somente na teimosa mente de Lewis. Ele estava a lembrar-se de tudo como se fosse uma rapariguinha que conseguira sair com o rapazinho de quem gostava e como bónus deu um simples beijinho na boca do jovem, o que para mim era só irritante. Tentei concentrar-me no jardim que tinha à minha frente e olhar para a relva que precisava de ser aparada há já para aí, vá, anos e para as flores que deveriam estar na varanda, bem como para as sebes na frente da casa. Tinha também de arranjar umas cordas e um bom assento para fazer um balouço numa das cerejeiras ou arranjar uma rede para prender entre estas e desta forma poder deitar-me lá durante o Verão, voltar a pintar os caixilhos das janelas todas, arranjar a varanda da frente e de trás, descobrir umas cadeiritas jeitosas para por na varanda de trás, comprar sementes de roseiras para plantar atrás ou então de hortaliças para poder por num cantinho na parte de trás e talvez não perca nada em dar uma revisão no sótão a ver se tenho lá alguma coisa que seja útil para o jardim ou para a casa…
            - Cassandra?
            Mais um pulo de susto que dei, mas por sorte tinha já esvaziado a tigela.
            - Importas-te de não me assustares tão frequentemente, se fazes o favor? – Disparei quando me virei para ele.
            - Desculpa, não pensei que estivesses tão irritada.
            - Pois, olha, devo de estar.
            - Eu precisava de te pedir um favor, por isso não me convinha lá muito esperar que estivesses de bom humor. – Disse arrogante.
            - Se for para me fazer de jovenzinha perdida à procura das chaves, esquece lá isso.
            - Eu apenas preciso que tu sejas a minha motorista.
            Pára tudo. Virei-me devagar para Lewis que estava a colocar cereais na tigela, de costas para mim.
            - Desculpa? – Perguntei.
            - Ora, não é nada de mais. Basicamente eu tenho de ir a uma mansão arranjar informações a uns quilómetros daqui e para fazer boa figura precisava de um motorista. E como só vais trabalhar logo à noite, eu pensei que gostasses de dar um passeio fora de Old Springs. – Tornou com um sorriso.
            Ora então, adeuzinho dia de jardinagem. Além do mais, há já muito tempo que não saía de Old Springs, a não ser em visitas de estudo, saídas estas que eram sempre uma seca descomunal e monumental. Também não saía à noite porque não tinha companhia que achasse mais adequada para esse tipo de saídas. Para mim a noite era algo muito íntimo e para mim é preferível ficar em casa sozinha do que sair com pessoas que se revelam no fim outra seca pior que as visitas de estudo.
            Por isso, talvez até valesse a pena ir passear durante o dia, mesmo que fosse com Lewis, o que equivale a um belo constrangimento para quem nunca saiu com um rapaz na vida, e que fosse para sei lá eu onde.
            - Bem… eu estava a pensar passar o dia a tratar da selva em que o jardim está…
            - Mas talvez decidas ir?
            Olhei para ele que já estava a comer os cereais e ocultava a luz da manhã que vinha da janela. Também ele olhava para mim.
            - Talvez me lembre de te levar até esse sítio.
            Ele sorriu e dirigiu o olhar a sua tigela.
            - Olha. – Chamei. Ele olhou para mim durante um segundo e voltou a olhar para a tigela.
            - Diz.
            - Como sabes o que sabes sobre esse tal de Kiachi?
            Ele hesitou na fala durante meio segundo, torcendo o nariz.
            - Também esteve ao serviço da minha família, mas não sei ainda como passou para o lado dos Yevenko… Ele era uma espécie de recruta.
            - Sim, isso disseste-me ontem à noite antes de me ter dado um treco. Mas ele, sei lá, fez algo que traísse a tua família ou algo? O Bryan ontem disse-me que o nome da tua família é muito conhecido na Rússia.
            Uma sombra nada simpática desceu-lhe sobre o rosto enquanto me fitava. Podia jurar que poucas pessoas não sentiriam a pele de galinha que e sobrepôs à minha.
            - Foram várias as pessoas que traíram a minha família…
            Não quis continuar com a conversa, preferi ficar por ali para não começar mal o dia. Sempre me foi difícil achar uma espécie de padrão com o qual possa cumprir para poder começar bem o dia, mas hoje não e apetecia ser muito intrometida logo de manhã.
            Além do mais, íamos passar o dia metidos no carro tipo sardinhas em lata sei lá eu quanto tempo para o ajudar. Não sei sinceramente o que ele faz para ganhar a vida, se me anda a enganar ou o que ele quer fazer de mim ou comigo, mas, apesar de me sentir constantemente assustada e receosa da minha vidinha sempre que sei que tenho de ir para a mesma área onde ele está, existe algo que não sei como surge, mas quando surge, deixa-me sempre com vontade de estar o mais perto dele, mesmo quando já estou demasiadamente perto dele, como foi a noite passada.
            Não me bastava estar simplesmente deitada ao lado dele ou em cima dele como estive a noite passada. Quer dizer, era bom tê-lo ali mesmo ao alcance do meu toque, mas aquilo simplesmente não me bastava. E isto sim, senhores e senhoras, é que era um belo de um caso bicudo para mim.
            Nunca namorei nem sequer beijei alguém na minha vida, logo não sei descobrir quando estou interessada em alguém. Será que o que sinto com Lewis é algo equiparado a gostar de alguém?
            Ao olhar para ele, distraído a terminar a sua tigela de cereais e a observar a cerejeira do fundo do jardim, esplêndida no seu auge de florescimento, pensava nisto tudo mas sem chegar a qualquer conclusão que se parecesse com definitiva…
            De repente, assim do nada, surgiu-me Louise na mente. Ela podia ajudar-me nesta situação. Bem… ia-se rir até rebolar no chão e achar isto uma patetice, mas os amigos não servem para ajudar sempre, mesmo que seja uma coisa de atrasados?
            - Lewis, quando é que é para irmos?
            Ele virou-se para mim de uma forma que me fez esquecer o que eu era, mas ao aperceber-me de que estava a entrar na cabeça dele, veio-ma à ideia o alarme que se ouve nos filmes do Kill Bill e abanei a cabeça, mentalmente falando. Ele já não estava assim tão chateado como há minutos, para meu alívio.
            - Estava a pensar que daqui a uma hora era bom.
            - Óptimo. Estava a pensar em ir falar com a Louise. Ela deve ter ficado preocupada comigo ontem.
            Ele sorriu e, mais uma vez, esqueci o meu nome e entrei na mente dele. Ele estava preocupado comigo, pelos vistos não devia estar com boa cara, mas nem vi mais nada, saí logo da cabeça dele.
            - Não é má ideia. Vai lá.
            Franzi o sobrolho quando assimilei o que estava na mente dele no momento em que, acidentalmente, entrei na cabeça dele e prestei atenção a mim mesma.
            - Achas que estou doente, Lewis? – Perguntei, passando a mão pela minha face. Ele pareceu surpreendido e levemente aterrorizado, se é que se pode ficar um bocadinho de nada aterrorizado, mas num segundo recompôs-se e abanou a cabeça com um sorriso como se fosse algo sem importância.
            - Não, acho apenas que estás com má cara, uma volta vai ajudar-te.
            Escrutinei a mente dele e francamente ele estava a mentir.
            Mas a casmurrice é coisa muito característica em mim, e eu vou descobrir o que ele esconde.
            Mas, antes do mais, eu tenho de ir ter com Louise.