domingo, 11 de julho de 2010

aviso da autora

Saudações a todos.
Antes de mais, quero agradecer o feedback que tenho recebido de todos. para mim, só o facto de me visitarem já é motivo e força para continuar.
Porém, o motivo que me leva a escrever este aviso é algo que quem me é mais próximo já saberá com certeza.
mesmo assim, optei por pedir aqui as minhas desculpas a todos os que se interessam por esta história, mas por motivos pessoais, não tenho a disponibilidade que tinha e, apesar de estar a adorar o universo que crio neste cantinho, o mundo à minha volta é, à semelhança do vosso, muito complexo.
A verdade é que a força vital, a que nos faz, pelos menos, ter vontade de viver, é uma coisa escassa em mim, sempre o foi, sempre senti que não tinha nada que se considerasse, no mínimo, importante para alguém e, outra verdade - pelo menos para mim - é que quem me rodeia está sempre a mostrar-me isso.
Pela segunda vez na minha vida, confiei cegamente no intuito de ter uma amizade que pudesse ser mais profunda, e pela segunda vez, isso desapareceu como a água desaparece do chão num dia de Sol esplendoroso ou a alegria de qualquer natureza é abalada com uma tragédia.
A tristeza que entrara na minha alma e a solidão que faz a cerejeira da minha vida perder todas as sua pétalas fazem-me perder a vontade de escrever. além disto, a fase em que me encontro é uma fase evolutiva que me está a tirar muito do meu tempo livre, pelo que, tudo junto, me impede de escrever.
Isto continuará até, espero eu, ao fim de Agosto. Até lá, espero poder ter oportunidade de continuar a traçar o destino de Cassandra e Lewis.

No processo em que me encontro, tento reanimar o meu espírito, e a sugestão que deixo é a minha ajuda neste processo.
Para além de gostar imenso de rock, o Japão é o meu mundo para lá de pessoal e intransmissível e esta senhora que proponho que ouçam é a minha heroína nipónica.
Ayumi Hamasaki tem perto de 33 anos e é a rainha da pop japonesa. a sua história de vida comove-me pela positiva por ser, de certo modo, idêntica à minha. a sua voz e a sua música são os ingredientes de uma terapia que provoca algo extraordinário em mim.
o video que vos deixo é uma preview do novo single, a sair dia 14/07.
Moon contém ainda o formato "Blossom" outra música a sair no mesmo dia.

mais uma vez, lamento que este aviso tenha de ser colocado aqui, mas, por outro lado, tudo isto é preciso na nossa vida.
nao percam a vossa força.
Beijos a todos
Shizuka ~Suse~

Capítulo IV - A Aproximação

        Cheguei a casa com um sentimento de medo a importunar-me sem interrupções. Sentia-me constantemente vigiada e tinha medo de Lewis. Podia ser paranóia, mas não se consegue pensar muito quando temos uma espécie de disco riscado a repetir sempre a mesma frase, que só por acaso é uma chamada de atenção à confiança que se deposita nas pessoas com quem convivemos, e a mim estava a tirar-me a energia toda.
            Por isso, obriguei-me a somente arrastar-me até ao quarto e deitar-me na cama e dormir até não me der para muito mais. Lewis estava no quarto dele no portátil, consegui percebê-lo por o ouvir a teclar, por isso simplesmente ignorei-o e fui directa ao meu quarto. Estava tudo silencioso quando entrei e deitar-me na cama foi uma coisa tão apaziguadora que me permiti a fazer algo que não fazia há meses: sonhar acordada. Coisa que não durou muito tempo, pois só me lembro de me imaginar na noite em que fugi de casa, em chegar à porta e, ao abri-la ver a minha avó sentada numa cadeira de balouço a ler Jane Austen e a saudar-me com um sorriso, a abraçar-me consoladoramente e oferecer-me auxílio deixando-me ficar em casa dela.
            Depois de um borrão negro, comecei a sonhar, desta vez com a minha avó há dezassete anos. Não sei nem como nem porquê soube disso, mas a verdade é que, instintivamente soube que fora no ano em que nasci ou numa data próxima. A minha avó estava no jardim a colher flores enquanto esperava por alguém até que, do nada, ouviu uma voz calma e límpida, cristalina e delicada.
            - Olá de novo, amiga Janette.
            Ela levantou a cabeça e deparou-se com uma mulher linda, alta e magra, com cinturinha de vespa, acentuada por um vestido cor de pérola de manga comprida e tão leve e esvoaçante como o lenço em volta do delgado pescoço, e longos cabelos que chegavam até às ancas castanhos como chocolate com tons vermelhos como se se misturasse com doce de morango, independente da luminosidade. A cara era pequena e tinha uma testa um pouco longa ocultada por uma franja muito espessa e longa, mas que mesmo assim deixavam a descoberto um par de grandes olhos castanho-avermelhados rodeados de longas e abundantes pestanas negras deixando um olhar triste, mas sensato, observador e cheio de sabedoria, que chegava aos lábios ligeiramente carnudos e tão rosados como as flores de cerejeira. Na mão direita, de dedos longuíssimos, delgados e pálidos, tinha um jovem rapaz de cabelos até aos ombros um ou dois tons mais escuro que o da mãe e franja também longa aberta ao meio, mas que mesmo assim ia rebeldemente para a frente. Os olhos eram doces, redondos e escuros como os da mãe, com a diferença de que o nariz tinha uma ponta redonda e muito querida e os lábios conseguiam ser ainda mais sorridentes que os da senhora que sempre que se abriam num sorriso eram numa versão mais digna de uma tentativa de se alegrar.
            - Bem-vinda à minha casa, Linda. Vejo que trouxeste o teu filho. – Retorquiu a minha avó nada assustada com a repentina aparição e colocando uma rosa encarnada no pequeno monte que fizera. Enquanto o pegava, a pequena cancela do jardim abria-se para a mulher e a criança, que caminhavam com calma. Parecia que o tempo passava com pouquíssima importância para estes. Assim que a minha avó chegou perto deles, ouviu-se um choro vindo da varanda.
            - Desculpem, a minha netinha está com fome, provavelmente.       
            - Ela já voltou a casa? – Perguntou a mulher com a sua voz suave como seda e delicada como uma escultura de gelo, uma voz mais digna de se ser comparada com o gelo do que com a seda, dada a intemporalidade que só a figura física da mulher transparecia. O rapaz olhou para a varanda interessado.
            - Sim, Linda. Os pais mudaram-se esta semana para cá e pediram-me para tratar da Cassie.
            - Eles têm piorado.
            - Sim. – Respondeu a minha avó já não tão animada. – E ela está um pouco atrasada no seu desenvolvimento…
            Linda, a visita da minha avó, olhou para o rapaz.
            - Queres ver a Cassandra?
            O rapaz levantou a cabeça e olhou para a mãe, com um brilho a iluminar os olhos queridos e vivos, e acenou-lhe afirmativamente sem dizer nada e nem mostrar um sorriso. A minha avó sorriu e foi na frente.
            - Por favor, façam favor de entrar e perdoem-me a simplicidade da minha casa. – Disse ela para as visitas.
            Uma ligeira gargalhada acompanhou o sorriso de Linda.
            - Não te preocupes, Janette. A simplicidade é a chave da felicidade.
            No sonho que estava a ter, senti um avanço na acção, pois de repente deparei-me com todos na sala de estar com a varanda aberta a deixar a brisa do Verão entrar carregada de um perfume intenso de rosas e violetas. A bebé, que aparentemente era eu, não parava de chorar e espernear enquanto a minha avó tentava alimentar-me com o biberão.
            - Senhora Janette. – Chamou o rapaz com uma voz tão delicada como a da mãe mas que carregava uma nota de força, de vida. – Posso pegá-la?
            A minha avó olhou para ele e, com um sorriso, pousou o biberão na mesa de centro e chegou-se ao jovem com um sorriso terno.
            - Claro que sim, Lewis. Toma, mas tem cuidado para não a apertares muito. Ela não gosta de se sentir muito presa.
            De certa forma, espiritualmente falando, senti os meus olhos a arregalar. Como?
            Continuei a olhar para a cena, o meu corpo acabado de nascer a ser entregue ao jovem Lewis Desdrov que, por mais estupidamente incrível me parecesse, pegou-me com tanta delicadeza que nem consegui achar termo de comparação. Ao acomodar-me nos seus braços, beijou-me delicadamente a testa e acalmei-me, enroscando-me ainda mais no seu ninho e respirando profundamente.
            - Ela é linda, Janette. – Comentou Linda, pondo uma mão no ombro de Lewis. Em resposta, este olhou-a quase com surpresa e receio. A mulher sorriu e verbalizou.
            - O que te atormenta, filho?
            - Queres dizer o que penso o que queres dizer? – Perguntou um tanto ou quanto surpreendido.
            A mulher acenou para o filho.
            - Sim. – Olhou para Janette e disse: - A tua netinha fora feita para o meu filho.
            - Eles são… - Iniciou a minha avó de olhos esbugalhados e com uma mão em frente da boca, sem conseguir acabar a frase. Em resposta, Linda voltou a acenar.
            No silêncio maravilhado da minha avó, neutro de Linda e surpreendido de Lewis, senti o calor-frio deste enquanto me alimentava e deixava-me a repousar nos seus braços. O sorriso era do mais contido que já tinha visto, mas os olhos, de novo cobertos com a cortina rebelde do seu cabelo enfranjado, não conseguiam de forma alguma esconder o que lhe percorria a alma, tornando o brilho dos seus olhos em dois faróis de alegria. Percebi que, para ele, o resto do mundo não existia, principalmente quando a sua mãe lhe confirmou a sua suspeita, coisa que ainda não entendi o que era.
            Do nada, a imagem de Lewis a sorrir-me e a cuidar de mim ficou retida e começou a esbater-se enquanto ouvia a sua voz jovem e viva a repetir a mesma frase sempre que sentia os olhos a fecharem-se pesados de sono.
            - Um dia… Vou esperar por ti…
            Quando deixei de ouvir a sua voz foi no momento em que acordei, desta vez sem me sentir assustada. O quarto estava silencioso e tão calmo que me permiti manter acordada. Remexi-me na cama até ficar de barriga para o ar e pus um braço sobre a testa enquanto observava o tecto colorido de tons de rosa graças à cobertura do dossel. Não estava a entender nada do que se estava a passar desde que fugi de casa: Lewis apareceu do nada em casa assim que chegara da fuga e tencionava acabar comigo e mesmo assim ficou a viver comigo pouquíssimos dias depois da minha travessia, os meus pais morrem passados poucos dias de nos termos instalado, sou arrastada, de certa forma voluntariamente, para uma investigação que me fez presumir que afinal o meu companheiro de casa poderá ser um assassino em série, ter um encontro muito precário e estranho com a pessoa que, provavelmente atacou a minha mãe e fez com que ela me odiasse até ao fim dos seus dias, e com uma mulher que quase me ia matando com as tripas a entupir a garganta, e isto tudo acrescido com as bizarridades que se têm passado comigo mesma desde disto tudo, ou seja, o facto de conseguir ver o coração das pessoas, literalmente falando, acompanhadas de vagas ideias do que poderia passar-se na cabeça das pessoas, o que equivale às emoções das pessoas, e agora conseguir ouvir pensamentos, e neste último ponto é de se acrescentar que só funciona com Lewis até ao momento, pois a experiência ainda não fora realizada noutros ratitos de laboratório.
            Em suma, concluí que estaria a precisar com carácter urgentíssimo de um colete-de-forças ou de um valente murro na cabeça para matar a minha imaginação galopantemente fértil. Ou isto, ou então estava mesmo a ter… poderes?
            - Ai céus, céus… - Desabafei num sussurro. – Estou a ficar maluquinha, só…
            - Que se passa para dar contigo em maluca? – Perguntou Lewis da porta do meu quarto. Lancei um pulo e um grito de susto, sentando-me de seguida.
            - Que raio estás a fazer acordado? Isto já passa do quê, duas da manhã? – Perguntei olhando para ele com dificuldade por falta de luz. Só lhe conseguia ver a silhueta e em resposta, vi esta a simular um encolher de ombros.
            - Estava para ir à cozinha beber um copo de água quando te ouvi a falar. – Encostou-se à ombreira da porta e cruzou os braços. Lá fora, as nuvens deixaram a descoberto um quarto minguante pálido e luminoso que entrava no quarto, mas sem chegar a Lewis, para minha tristeza. – Sabes, falar sozinho não costuma ser bom presságio. – Continuou um tanto ou quanto divertido.
            Baixei o olhar par a colcha por um segundo. Xiii, acertaste na mosca!, pensei num tom divertidamente triste.
            - Assim sentenceia a sabedoria popular.
            Sem dar por nada, senti um peso moldar o colchão aos meus pés. O quarto minguante estava de novo coberto pelas nuvens e, da forma que sentia a vista cansada, continuava sem ver nada à frente que fosse mais detalhado que uma mera silhueta.
            - Tu não tens estado bem, pois não? – Perguntou.
            - Têm-se passado coisas estranhas comigo, Lewis.
            - Queres falar? – Indagou. Abanei a cabeça em resposta, sem dizer palavra.
            - Entendo. – Calou-se por uns segundos. – Tens medo?
            - Do quê? – De estar perante um desconhecido que acolhi na agora minha casa? De estar a ficar doida?
            - De teres de enfrentar isto tudo sozinha. Tens de gerir uma casa, um emprego, uma vida de adulto e ainda és uma adolescente.
            Foi a minha vez de encolher os ombros.
            - Isso é o menos para mim. Sempre me chamaram de incompetente e me acusaram de não ser capaz de me endireitar na vida, mas estou contente por, até agora, estar a conseguir dar conta do recado. Isso não me afecta.
            - Isso afectava-te mais se estivesses sozinha em casa?
            - Sem dúvida. Não gosto muito de estar muito tempo sozinha.
            - Foi por isso que me aceitaste em casa?
            - Basicamente tu instalaste-te sem convite.
            - Mentira. Tu quiseste que ficasse.
            - Porque tu convenceste-me com a história de que tu querias o meu bem e me querias proteger e que, como tal, não te importavas ficar cá para garantir isso mesmo.
            Ele sorriu, com curtas gargalhadas, e aproximou-se de mim.
            - E tu ainda és muito fresca nestas coisas. – Disse num sussurro. – Tu és muito inocente ainda.
            - Prefiro egoísta a inocente.
            - Prefiro inocente a egoísta
            - Porquê?
            - Porque me faz sentir mais capaz de te proteger.
            - Oh, não gostas de te sentir um objecto, neste caso, do meu egoísmo? – Perguntei em tom de brincadeira.
            - Por certas e determinadas pessoas, só de me ver nessa situação, fico com vontade de as matar. Mas tu és, sem quaisquer dúvidas, uma excepção.
            Encolhi as pernas e abracei-as de forma a por o queixo sobre os joelhos.
            - De forma negativa, suponho eu. – Disse na brincadeira.
            Senti nele um corte na diversão que fê-lo aproximar-se ainda mais de mim, até ficar sentado ao meu lado. Pôs uma mão na minha face e virou-me a cara para ele, deixando-nos tão próximos que sentia a sua respiração.
            - Enganas-te, Cassie. Tu és uma excepção a todos os níveis, mas sempre, sempre, pela positiva. E antes que digas alguma piada, sim, posso também preferir egoísta a inocente, porque o egoísmo seria o teu e só nessas condições é que aceitaria esse conceito e me submeteria a ele. – Parou um segundo para recuperar o fôlego, deixando-nos absorver as suas palavras. – Tudo desde que me colocasse ao teu lado, Cassie.
            Ficámos os dois a olhar um para o outro, aliás, eu fiquei a tentar perceber onde estavam os seus olhos no rosto que tinha à minha frente graças às espessas nuvens que passeavam languidamente em frente da lua, até que ele prosseguiu.
            - Sim, tu tens medo de algo. Sentes-te infeliz porque nunca tiveste ninguém a tempo inteiro para ti e quando a tiveste foi até há dois anos. Hoje sentes-te ainda mais infeliz e receosa de tudo por já não teres o ombro da tua avó, porque todos aqueles que tomaste como sendo talvez amigos deixaram-te a meio do caminho e porque te sentes como um chinês acabado de chegar à América sem ter tido aulas de inglês antes de chegar. Sentes-te capaz de chorar a qualquer hora porque carregas muita solidão. Precisas de desenvolver a tua capacidade de amar mas nunca sequer te deram um pouco de amor…
            Pôs um travão no seu discurso quando não consegui aguentar mais ouvi-lo. Numa espécie de birra, deitei-me de lado e fiquei assim quieta a experimentar mais uma vez o salgado das lágrimas. Desejei que ele fosse compreensível e me abraçasse, que se deixasse estar comigo até adormecer, pelo menos, porque ele estava a expor todas as minhas verdades, aquelas que nem a nós próprios somos capazes de confessar por serem coisas fúteis, desnecessárias ou infantis.
            Depois de me pôr a soluçar, ele deitou-se ao meu lado sobre os cobertores, colando o seu peito nas minhas costas, enroscando um braço na minha cintura e pondo a cabeça ao lado da minha.
            - Lamento por te ter feito chorar, Cassie. Por favor, perdoa-me ser assim.
            - Assim como?
            Demorou um segundo até me acalmar passando a mão que tinha livre por baixo do meu pescoço, pousando-a na minha face esquerda. Passou com o polegar na minha cara abaixo do olho de forma a secar as lágrimas e sussurrou ao meu ouvido:
            - Nada. Esquece.
            Acenei lentamente e tentei acalmar-me. Quando deixei de soluçar e tremer perguntei-lhe:
            - Posso-te pedir um favor?
            - Claro que podes. Diz.
            - Poderias continuar com o que estavas a dizer?
            Ele remexeu-me de forma a ficar a olhar para mim.   
            - Mas eu…
            - Tu nada, Lewis – Cortei apontando o dedo para ele. – Tu deixaste o que estavas a dizer a meio.
            - Está bem. – Disse com um suspiro. – Por onde queres que vá?
            - No ponto onde ficaste.
            - Então posso começar por uma pergunta?
            - Claro.
            Ele pegou-me pela cintura e virou-me até ficar de barriga para o ar e cara a cara com ele com uma facilidade que em vez de parecer constrangida, lancei uma cara de estranheza. Como conseguia ele fazer aquilo como se levantasse uma cadeira?
            - De que tens medo? – Desviei o olhar e estava prestes a virar a cara quando ele me pegou pelo queixo e fez-me olhar para ele. Finalmente conseguia ver a cara dele. – Por favor, não desvies o olhar.
            - Queres mesmo começar com essa pergunta?
            - Agora quero.
            - Tenho medo de tudo, generalizando, porque não sei o que se está a passar comigo.
            - Queres falar sobre isso?
            Deveria falar sobre algo que era arriscadíssimo para a minha reputação? Ele era uma pessoa já adulta, de certeza que iria reagir como se estivesse a lidar com um manicómio quando lhe dissesse que ouvia os pensamentos que lhe passavam pela cabeça. Por falar em ouvir coisas, tentei ouvi-lo apesar de não estar a acreditar, e de facto tudo o que via era tudo o que ele estava a associar com o seu toque sobre mim, mas numa versão muito cor-de-rosa, sem exageros pois tudo o que estava a captar era, tão lamechas, tão romântico, que só me veio isto à cabeça. Mesmo assim decidi ir pela defensiva até ter mais certezas, e mesmo para não perder a segurança decidi dar alguma utilidade àquele fruto da minha imaginação: manter-me atenta a qualquer alteração da versão dreamland do presente segundo Lewis Desdrov.
            - Não prefiro ir por aí, Lewis. – Disse por fim.
            - Então queres ir por onde? – Perguntou inexpressivo.
            - Porque vieste para aqui? Porque optaste por me seguir, salvo seja, e por consequente instalares-te aqui? Porque me está a parecer que essa tua profissão está muito próxima de ser considerada uma farsa? Como me encontraste? – Disse de rajada. À medida que ia perguntando, ia vendo nitidamente o cor-de-rosa a sumir-se na mente dele, à semelhança do que se vê quando se está a cair de uma grande altura: tudo a correr na vertical, de baixo para cima. De seguida algo trespassou-o: dor misturado com ternura, proteccionismo e compaixão. Fechou os olhos por um segundo e quando os abriu consegui ver um pesar que poderia ser digno de quem sofre há anos.
            - Lamento, mas não consigo responder a essas perguntas. Tudo o que posso dizer é que estou a cumprir uma promessa que fiz à tua avó e que, de certa forma, eu tenho estado atento à tua localização. – Fechou os olhos enquanto pensava prometi-o à Janette e a mim mesmo, não mo faças dizer agora, não ainda… . Como estava demasiado concentrada, dei por mim a dizer.
            - Ainda não?
            Ele ficou a olhar para mim e nesse segundo em que os nossos olhares se fincaram um no outro ouvi: Não podes ter-me ouvido. Isso só te aconteceria daqui a algum tempo. Por favor, que ainda não me ouças. Aclarei a voz e tentei remediar o mal.
            - Quer dizer, não me podes responder… ainda?
            Um suspiro percorreu-lhe a mente e o rosto suavizou-se, mostrando-me que afinal tinha ficado tenso.
            - É isso, Cassandra. Ainda não to posso dizer.
            - Então, o que te leva a achar que tenho medo?
            Ele pegou na minha mão e pousou-a de palma aberta na sua face. Fiquei maravilhada com o toque e o gesto que tudo o que consegui fazer foi olhar para o lado que a minha mão estava a tocar. Nunca havia experimentado algo parecido, alguém pegar na minha mão e colocá-la na sua face, e terem-me feito isso agora comoveu-me positivamente deixando-me perto de sentir algo em mim a explodir suavemente.
            Ele notou a minha possível cara de parva apanhadinha do clima e pegou na minha outra mão, colocando-a sobre a outra face. Passou uma perna por cima de mim para poder ficar de joelhos sobre mim sem me espalmar com o seu peso – coisa que não me importava nada que acontecesse – e ficou a olhar para mim enquanto eu ficava a olhar para os seus olhos tão ternurentos como os que vi no sonho, tão cheios de sentimento que só contribuíam para que me comovessem a ponto de me deixar a chorar.
            - De que tens medo, Cassie? O que te leva a desconfiar e a recear-me? O que te faz parecer dura e um tanto ou quanto desprovida de sentimentos quando o que o teu coração mais anseia é isto? - E reforçou a última pergunta virando-se de repente comigo junto para ficar em cima dele. Sem saber exactamente como, não tinha tirado as mãos da sua cara e ele nem se importou com o facto de ter-me a experimentar um simples toque que era simplesmente íntimo demais para duas pessoas que apenas dividem a casa. Pegou no cobertor da cama e cobriu-nos com ele, aconchegando o meu corpo contra o dele.
            - Não me vais responder?
            Não conseguia dizer nada e fazer pouco mais do que manter a sua cara entre as minhas mãos e olhar para os seus olhos, pelo que ainda consegui acenar com a cabeça. Em resposta, ele sorriu mostrando aqueles dentes tão claros como a lua.
            - Nós já nos beijámos duas vezes, mas ainda não tinhas descoberto nada. Eu compreendo que estejas assim.
            - Mas isto é constrangedor para ti, Lewis. Não devias deixar-me assim tão perto de ti, eu sou um íman de desastres.
            - Constrangedor? Porquê? – Tornou, sorrindo-me de novo e começou a fazer-me festas à cara.
            - Ora, porque tu não és tão inexperiente como eu e isto acaba por se revelar em algo estúpido e digno de atrasadinhos mentais.
            Ele começou a rir. Eu comecei a franzir o sobrolho.
            - Quem te disse isso?
            - A tua idade.
            - Que saiba, a idade não tem cordas vocais. – Estava prestes a bufar-lhe de impaciência quando aproximou a minha cara da dele. Deixou-me sem ar e de olhos arregalados e suponho que o meu coração teve um colapso quando me sussurrou ao ouvido: - Não sou assim tão experiente, como tu dizes e não me refiro somente a relações amorosas.
            Consegui fazer com que os olhos voltassem à sua abertura normal, mas estes mentalmente estavam ainda arregalados.
            - Quando tencionas matar-me ou fazer-me alguma coisa prejudicial?
            Ele manteve as nossas cabeças juntas e perguntou com uma voz nitidamente estranha.
            - O que te leva a dizer isso? Eu não te quero magoar, Cassie.
            - Então, porque do nada te dá para seres tão... íntimo e mesmo assim consegues ser tão distante?
            Ele suspirou e conduziu a minha cabeça para o seu peito, rígido e simultaneamente macio graças a um pijama azul igual ao céu limpo de uma manhã de Verão e passou-me a mão pela cabeça, alisando-me os cabelos.
            - Eu ainda não posso ser-te tão sincero como queria ser contigo. Perdoa-me esta lacuna, mas só posso garantir-te o que te tenho garantido desde que nos conhecemos…pessoalmente.
            - Tantos segredos que escondes, Lewis… tantos segredos que carregas…
            - Tem tanto peso em mim como a dor que carregas tem em ti. – Beijou-me na cara e fazendo festinhas na nuca sussurrou-me ao ouvido com voz ronronante. – Dorme descansada. Não estou aqui para te magoar, juro. Eu quero a tua segurança e a tua alegria, nada mais desejo e nada peço em troca.
            Virei a cara para o pescoço dele e disse-lhe.
            - Isso sim, é que é uma grande missão­. E se conseguires isso, poderás morrer descansado. – A minha respiração  ia de encontro ao seu pescoço como ele não esperava por esta, pensava eu, ele arrepiou-se da minha brisa que a minha fala produzia e embatia no seu pescoço. Em resposta, ri-me com gargalhadinhas baixas, tímidas e curtas.
            - O que foi?
            - Nada. Apenas achei giro tu arrepiares-te com a minha respiração.
            Ele continuou a alisar-me o cabelo lentamente enquanto me apertava contra ele, ainda mais ternamente.
            - É o que dá ter-te comigo. Vá, agora tenta dormir.
            - Não me apetece. – Retorqui.
            Ele lançou uma gargalhada leve e baixa.
            - Mas tens de dormir. – E ao dizer-me isto, ficamos ambos em silêncio a ouvir a brisa de Verão a ribombar no exterior, brincando com os ramos das árvores de cerejeira que estavam no fundo do quintal da casa. A lua lembrara-se de se destacar das nuvens iluminando-nos aos dois tão carinhosamente como se fosse um terceiro cobertor.
            - Posso só fazer mais uma pergunta antes de me apagar por completo?
            - Claro. Faz favor.
            Inspirei fundo e deixei passar só uns segundos antes de perguntar
            - Porque insistes em ter tanta compaixão comigo?
            - Eu não sinto qualquer tipo de compaixão por ti. Eu tenho é paixão.
            - Deves estar a delirar de falta de ar ou algo do tipo, Lewis.
            - Isso querias tu, mas não, até que estou muito bem assim obrigado. – Disse a rir.
            Quando dei por mim, estava uma brisa invadir o quarto e pétalas da cerejeira perto da janela a acompanharem suave ventania.
            - Bolas, vou ficar com o quarto todo floreado. – Resmunguei, sem sequer me lembrar de que Lewis estava debaixo de mim. Só me lembrei quando ele me apertou contra si, pegou na minha mão direita e esfregou-a delicadamente na sua face.
            - Não sejas tão resmungona logo de manhã. É para te dar vida ao quarto, precisas de animar. – Disse num volume normal e com um tom animado.
            - Pois, pois, Lewis. Não estás interessado em limpar o quarto, pois não?
            - Até que eu gosto de vassouras. – Sem querer, fui invadida por uma imagem de uma série de cabos de vassoura colocados de pé e Lewis, adolescente, com um deles na mão, pronto a atacar os outros que estavam de pé. Fechei os olhos e fiquei tensa com a visão repentina. Não precisava de recordações logo pela manhã.
            - Estás bem? – Perguntou, largando a minha mão.
            - Sim, estou. – Levantei-me e deixei-me ficar sentada com uma mão na testa. – Apenas me deu uma tontura. Talvez tenha de ir comer alguma coisa… - Levantei-me e comecei a procurar os chinelos. – Queres que te traga alguma coisa para com…
            - Não. – Disse com veemência ao agarrar a minha mão e cortar com o que estava a dizer. Olhei para trás e vi dureza na cara dele. – Tu não estás com tonturas, Cassie.
            Fiquei a olhar para ele. Sem querer, ele tinha acertado na parte em que eu não tinha tonturas, mas tinha de me manter na defensiva. Sustive o olhar dele com a melhor imitação de confusão que consegui e tornei-lhe a palavra.
            - Não? Mas eu senti agora uma tontura mesmo, antes de me levantar…
            Ele sorriu, um daqueles sorrisos que não são de divertimento. Era um daqueles que mostravam confiança, arrogância, que sabiam muito.
            - Não. Isso não são tonturas.
            - Não? – Tornei a perguntar.
            - Não. Isso é audição a mais.
            Virei a cara para não denunciar mais nada. Calcei os chinelos e baixei o braço que ele segurava. Ele largou-o, mas não olhei para trás, muito menos lhe respondi. Ele voltou a alcançar-me na porta do quarto para o corredor, agarrando-me por trás.
            - Não te faças de desentendida. Tu ouves o que eu penso e pressentes o que eu sinto. Porque não o dizes logo?
            - Porque raios te deu para te pores a ver o mundo como uma saga sobrenatural?
            - Porque, Cassandra… - Baixou a cabeça e a voz para me sussurrar ao ouvido, como se fosse um segredo. - … O mundo é mais sobrenatural do que as criaturas sobrenaturais. E tu, minha querida, estás a começar a descobrir esse lado que pouquíssimos entendem.
            Estava prestes a beijar-me o pescoço quando eu preguei uma cotovelada na barriga e aproveitei o facto de ele ter folgado o abraço. Fui até ao corrimão que levava para a escadaria e, ao virar-me para ele, vi-o normal, a olhar-me com um olhar indecifrável. Foi ao ver a indiferencia dele que me apercebi de que o cotovelo com que batera na sua barriga estava a doer.
            - Tu não sabes nada. – Disse-lhe enervada.
            Sei pois, por isso é que me estás a evitar. Ah! E já agora, tu és muito fraca, não me magoaste nada.
            Era o que ele queria que respondesse ao que ele pensava! Lancei uma cara séria, curzei os braços e esperei pela resposta. Ele não me disse nada e eu arqueei uma sobrancelha.
            - Então? Tencionas ficar aí, calado? É que eu não ouvi nada se já me respondeste. – Mais dois segundos. Desisti e comecei a descer as escadas.
            Podes enganar muita gente, menos a mim, Cassandra.
            Comecei a resmungar muito baixo enquanto desci as escadas e ia para a cozinha. Enquanto preparava uma tigela de cereais ou müsli, nem sei bem ao certo, ouvi o chuveiro a abrir-se no piso de cima e estava a ser mentalmente torturada. Lewis estava a lembrar-se de mim na manhã em que a polícia apareceu e ele foi à casa de banho chamar-me, da forma como estava e a vontade de sorrir que ele tinha quando me viu.
            Estava sinceramente a passar-me com esta minha nova bizarridade, mas tentei pensar em algo enquanto comia a tigela de cereais, tudo para não ter me focar somente na teimosa mente de Lewis. Ele estava a lembrar-se de tudo como se fosse uma rapariguinha que conseguira sair com o rapazinho de quem gostava e como bónus deu um simples beijinho na boca do jovem, o que para mim era só irritante. Tentei concentrar-me no jardim que tinha à minha frente e olhar para a relva que precisava de ser aparada há já para aí, vá, anos e para as flores que deveriam estar na varanda, bem como para as sebes na frente da casa. Tinha também de arranjar umas cordas e um bom assento para fazer um balouço numa das cerejeiras ou arranjar uma rede para prender entre estas e desta forma poder deitar-me lá durante o Verão, voltar a pintar os caixilhos das janelas todas, arranjar a varanda da frente e de trás, descobrir umas cadeiritas jeitosas para por na varanda de trás, comprar sementes de roseiras para plantar atrás ou então de hortaliças para poder por num cantinho na parte de trás e talvez não perca nada em dar uma revisão no sótão a ver se tenho lá alguma coisa que seja útil para o jardim ou para a casa…
            - Cassandra?
            Mais um pulo de susto que dei, mas por sorte tinha já esvaziado a tigela.
            - Importas-te de não me assustares tão frequentemente, se fazes o favor? – Disparei quando me virei para ele.
            - Desculpa, não pensei que estivesses tão irritada.
            - Pois, olha, devo de estar.
            - Eu precisava de te pedir um favor, por isso não me convinha lá muito esperar que estivesses de bom humor. – Disse arrogante.
            - Se for para me fazer de jovenzinha perdida à procura das chaves, esquece lá isso.
            - Eu apenas preciso que tu sejas a minha motorista.
            Pára tudo. Virei-me devagar para Lewis que estava a colocar cereais na tigela, de costas para mim.
            - Desculpa? – Perguntei.
            - Ora, não é nada de mais. Basicamente eu tenho de ir a uma mansão arranjar informações a uns quilómetros daqui e para fazer boa figura precisava de um motorista. E como só vais trabalhar logo à noite, eu pensei que gostasses de dar um passeio fora de Old Springs. – Tornou com um sorriso.
            Ora então, adeuzinho dia de jardinagem. Além do mais, há já muito tempo que não saía de Old Springs, a não ser em visitas de estudo, saídas estas que eram sempre uma seca descomunal e monumental. Também não saía à noite porque não tinha companhia que achasse mais adequada para esse tipo de saídas. Para mim a noite era algo muito íntimo e para mim é preferível ficar em casa sozinha do que sair com pessoas que se revelam no fim outra seca pior que as visitas de estudo.
            Por isso, talvez até valesse a pena ir passear durante o dia, mesmo que fosse com Lewis, o que equivale a um belo constrangimento para quem nunca saiu com um rapaz na vida, e que fosse para sei lá eu onde.
            - Bem… eu estava a pensar passar o dia a tratar da selva em que o jardim está…
            - Mas talvez decidas ir?
            Olhei para ele que já estava a comer os cereais e ocultava a luz da manhã que vinha da janela. Também ele olhava para mim.
            - Talvez me lembre de te levar até esse sítio.
            Ele sorriu e dirigiu o olhar a sua tigela.
            - Olha. – Chamei. Ele olhou para mim durante um segundo e voltou a olhar para a tigela.
            - Diz.
            - Como sabes o que sabes sobre esse tal de Kiachi?
            Ele hesitou na fala durante meio segundo, torcendo o nariz.
            - Também esteve ao serviço da minha família, mas não sei ainda como passou para o lado dos Yevenko… Ele era uma espécie de recruta.
            - Sim, isso disseste-me ontem à noite antes de me ter dado um treco. Mas ele, sei lá, fez algo que traísse a tua família ou algo? O Bryan ontem disse-me que o nome da tua família é muito conhecido na Rússia.
            Uma sombra nada simpática desceu-lhe sobre o rosto enquanto me fitava. Podia jurar que poucas pessoas não sentiriam a pele de galinha que e sobrepôs à minha.
            - Foram várias as pessoas que traíram a minha família…
            Não quis continuar com a conversa, preferi ficar por ali para não começar mal o dia. Sempre me foi difícil achar uma espécie de padrão com o qual possa cumprir para poder começar bem o dia, mas hoje não e apetecia ser muito intrometida logo de manhã.
            Além do mais, íamos passar o dia metidos no carro tipo sardinhas em lata sei lá eu quanto tempo para o ajudar. Não sei sinceramente o que ele faz para ganhar a vida, se me anda a enganar ou o que ele quer fazer de mim ou comigo, mas, apesar de me sentir constantemente assustada e receosa da minha vidinha sempre que sei que tenho de ir para a mesma área onde ele está, existe algo que não sei como surge, mas quando surge, deixa-me sempre com vontade de estar o mais perto dele, mesmo quando já estou demasiadamente perto dele, como foi a noite passada.
            Não me bastava estar simplesmente deitada ao lado dele ou em cima dele como estive a noite passada. Quer dizer, era bom tê-lo ali mesmo ao alcance do meu toque, mas aquilo simplesmente não me bastava. E isto sim, senhores e senhoras, é que era um belo de um caso bicudo para mim.
            Nunca namorei nem sequer beijei alguém na minha vida, logo não sei descobrir quando estou interessada em alguém. Será que o que sinto com Lewis é algo equiparado a gostar de alguém?
            Ao olhar para ele, distraído a terminar a sua tigela de cereais e a observar a cerejeira do fundo do jardim, esplêndida no seu auge de florescimento, pensava nisto tudo mas sem chegar a qualquer conclusão que se parecesse com definitiva…
            De repente, assim do nada, surgiu-me Louise na mente. Ela podia ajudar-me nesta situação. Bem… ia-se rir até rebolar no chão e achar isto uma patetice, mas os amigos não servem para ajudar sempre, mesmo que seja uma coisa de atrasados?
            - Lewis, quando é que é para irmos?
            Ele virou-se para mim de uma forma que me fez esquecer o que eu era, mas ao aperceber-me de que estava a entrar na cabeça dele, veio-ma à ideia o alarme que se ouve nos filmes do Kill Bill e abanei a cabeça, mentalmente falando. Ele já não estava assim tão chateado como há minutos, para meu alívio.
            - Estava a pensar que daqui a uma hora era bom.
            - Óptimo. Estava a pensar em ir falar com a Louise. Ela deve ter ficado preocupada comigo ontem.
            Ele sorriu e, mais uma vez, esqueci o meu nome e entrei na mente dele. Ele estava preocupado comigo, pelos vistos não devia estar com boa cara, mas nem vi mais nada, saí logo da cabeça dele.
            - Não é má ideia. Vai lá.
            Franzi o sobrolho quando assimilei o que estava na mente dele no momento em que, acidentalmente, entrei na cabeça dele e prestei atenção a mim mesma.
            - Achas que estou doente, Lewis? – Perguntei, passando a mão pela minha face. Ele pareceu surpreendido e levemente aterrorizado, se é que se pode ficar um bocadinho de nada aterrorizado, mas num segundo recompôs-se e abanou a cabeça com um sorriso como se fosse algo sem importância.
            - Não, acho apenas que estás com má cara, uma volta vai ajudar-te.
            Escrutinei a mente dele e francamente ele estava a mentir.
            Mas a casmurrice é coisa muito característica em mim, e eu vou descobrir o que ele esconde.
            Mas, antes do mais, eu tenho de ir ter com Louise.