sexta-feira, 4 de junho de 2010

Capítulo V - A Luz da Memória

            -Cassandra?
            Abri os olhos devagar, ao som de uma voz que, se não estivesse embargada pela preocupação seria perfeitamente melodiosa, e sentido o Sol sobre o meu braço direito, quente e agradável. Deparei-me com o interior do meu carocha do lado do pendura no parque de estacionamento da escola de Old Springs.
            Foi então que me veio à memória tudo o que se tinha passado.
            Endireitei-me rapidamente e já estava para abrir a porta quando a voz de Lewis me deteve.
            - Tem calma Cassandra. Já está tudo bem.
            Virei-me para o ver no local do condutor com uma mão sobre o meu ombro esquerdo. O cabelo ocultava-lhe mal a pequena ruga de preocupação no meio das sobrancelhas.
            - Desculpa? Eu pensava que estávamos a fazer uma investigação qualquer e que depois estávamos a seguir um rapaz com uma cicatriz manhosa na cara… - Comecei
            - Disseste bem: estávamos. Até teres desmaiado assim que ele disse o nome de quem o mandou seguir-nos. E a investigação que estou a fazer não é uma qualquer. – Interrompeu.
            Foi a minha vez de franzir o sobrolho.
            - Quem é Aline Yevenko? O que se passou para ter desmaiado? É por causa dessa investigação que ela tem os carrascos dela atrás de nós? – Perguntei tudo de uma vez.
            Ele suspirou antes de falar.
            - Suponho que seja. Quanto ao teu desmaio, não sei o que se passou. Aliás, para ser mais exacto, não sei o que se passou a partir do momento em que lhe agarraste as partes baixas. Lembra-me de não te irritar muito. – Disse lançando-me um meio sorriso que… simplesmente me cortou o ar.
            Baixei a cabeça envergonhada e falei.
            - Para dizer a verdade, percebo tanto o que se passou ali como tu. Nunca senti raiva de ninguém, mesmo do meu pai que permitia que a minha mãe me batesse, nem dos rapazes da escola que se divertiam a gozar comigo. Apenas dei por mim a ficar impaciente e    fiz o que fiz. Juro pela alma da minha avó que não percebi nada.
            Ele estendeu o seu braço esquerdo e exibiu um saquinho de papel de um café e uma lata de ice-tea de pêssego que tinha sobre o tablier na zona do volante e sorriu. Ainda mais. Para dar cabo da minha pouca sanidade mental. Como se se tratasse de uma coisinha simples, do tipo cuspir a pastilha elástica para o chão ou fechar os olhos para dormir quando estamos com uma carga de sono em cima.
            - Tu não comeste grande coisa hoje, portanto aproveitei para te ir comprar um lanchinho no Old Burger.
            - Obrigada, Lewis. – Respondi, aceitando a comida e sorrindo timidamente para ele. Ainda bem que tinha uma franja que me ocultava um pouco a minha cara, vermelha como morangos de tanta vergonha.
            Ficámos em silêncio durante uns segundos que mais me pareceram minutos enquanto saboreava a sandes de atum e maionese. Sentia o olhar dele sobre mim insistentemente enquanto reflectia.
            - E quem é essa Aline Yevenko? – Repeti quando não consegui aguentar mais o silêncio.
            - Não sei. – Tornou um pouco rápido demais e com um falsete de insegurança que a qualquer um passava despercebido, mas eu já mentia a muita gente há anos, pelo que apanhava a mentira facilmente.
            - Não tentes enganar um mentiroso, Lewis. – Avisei com uma certa rispidez enquanto fintava o seu olhar escuro e fantasticamente anestesiante. Ao ver uma alteração que não consegui interpretar no seu semblante, tentei acalmar-me. – Estou disposta a ajudar-te nessa tua investigação, pelo que acho que mereço saber mais alguma informação, mas se não me queres contar, acho que entendo. Agora podes ter a certeza de que eu vou descobrir quem é essa mulher.
            - Ela não é bem uma mulher. – Disse ele com um olhar de aviso que contradizia com a leve severidade da sua afirmação. – As mulheres podem ser do piorio, muito pior que o próprio Diabo, mas esta Aline Yevenko ultrapassa a marca do mal que as mulheres conseguem fazer.
            Olhei para ele estupefacta, pois o meu ego de mulher sentiu-se magoado com a sua declaração. Porém, a informação que debitou sobrepôs-se ao meu estado de espírito. Afinal, ele conhecia-a. E conhecia-a bem.
            Mas ela não foi nem simpática com ele.
            Resumindo, ela magoou-o no passado. Um homem ferido no passado... Interessante.
            - O que foi que ela te fez, Lewis?
            Ele demorou uns segundos a responder até que falou, com amargura a carregar a sua afirmação.
            - O meu pai foi assassinado e acho que foi a família dela que encomendou a morte dele. Há três anos, a minha mãe teve o mesmo fim, mas desta vez acho que foi ela que a matou.
            Au. Toquei com o dedo na ferida. Tentei o meu melhor para conseguir olhá-lo sem me sentir intimidada enquanto respondi.
            - Euhm… lamento imenso a tua perda Lewis. Não sabia. Desculpa ter puxado um assunto tão delicado.
            Em resposta, ele acenou também no sentido que poderia ser igual a um “deixa estar”.
            Estivemos uns segundos em silêncio enquanto eu comia, até que estremeci assim que percebi que ele tinha posto um braço em volta dos meus ombros.
            - Sentes a falta dos teus pais? Mesmo depois do que, aparentemente, te fizeram? – Perguntou aproximando a cara do meu ouvido.
            - Bem, até que sinto. Ao fim e ao cabo, foram os meus pais. Mas, para ser sincera, as lágrimas que irei chorar não serão, em grande parte, verdadeiras. A minha mãe tinha um ódio de mim que ninguém imagina e o meu pai nada fazia. Por isso estou muito bem como estou agora. – Incluindo a parte do agora, dentro do carro, contigo perigosamente perto de mim, acrescentou o meu lado mais impulsivo de assalto. O meu consciente corou inacreditavelmente assim que fui assaltada por esta ideia.
            Mas mesmo assim, era-me difícil não o confessar, nem que fosse de mim para mim.    
            Com certeza que o teu mal são hormonas demasiado reprimidas, jovem rapariga, contrapôs o meu lado mais razoável.
            - Quer queiras quer não, eles são parte de ti. Não há como não o ocultar.
            - Sim, mas para mim, eles eram mais as pessoas que me ofereciam as coisas mais físicas, como uma cama e isso. A minha avó, essa sim, é que foi a minha mãe. Cuidou de mim tal como se fosse a sua filha vinda da sua barriga. É a ela que devo tudo.
            Ele passou com o outro braço pela minha barriga e o meu coração paralisou, os meus pulmões bloquearam o ar, a minha pele ficou como a de uma galinha, levantando os pêlos dos braços, e a minha coluna sofreu pelo menos cinco arrepios para cima e para baixo. Quando falou, juro que senti-me como se tivesse morrido e ido parar ao céu num milésimo de segundo.
            - Tens razão. A senhora Janette tinha um bom coração.         
            Ao ter voltado do meu transe tive uma sensação de déjá vu que me assustou, onde a única coisa que mudava era a época. Senti-me, nesses segundos, outra pessoa, mas cuja essência era exactamente a mesma.
            Lewis respirou fundo e, através do nosso reflexo no vidro do carro, vi-o de olhos fechados deliciado com algo que, julguei eu, não ser o seu contacto comigo. Mas assim que vi melhor a sua cara e reparei que tinha, por trás dos lábios perfeitamente entreabertos num longo suspiro, dois dentes mais compridos do que o normal. Para estragar o ambiente, amachuquei o saquinho de papel da sandes de atum, mesmo todo gorduroso no interior graças à maionese e a bocadinhos de atum, e tive um vislumbre dos seus olhos, ligeiramente cor de vinho contra a luz do Sol. Finalmente ele separou-se de mim.
            - Bem… euhm… vamos lá investigar? – Perguntei com uma certa pontada de receio em encará-lo.
            - Sim. Vamos lá. – Disse com uma certa relutância e colocando um par de óculos de sol do género aviador, mudando o estado de espírito para a de investigação.
            - Diz-me uma coisa: o que se sabe sobre o massacre do Texas? – Perguntou assim que saí.
            - Aquele da década de 1970? – Perguntei.
            - Sim, esse.
            - Para te dizer a verdade, só sei que se passou numa quinta no Texas e que morreram muitas pessoas.
            Ele acenou, mantendo a sua expressão impassível enquanto íamos de volta para a biblioteca.

            Eram cerca das nove da noite quando senti um arrepio, estava eu no bar e tinha-me passado pela cabeça a imagem da arma que Lewis me tinha dado na noite em que me deu a “coisa má” e a associei sem querer à investigação que estivemos a fazer à tarde.
            Graças a uma distracção da Stacie Charlie oferecida pelo Lewis, consegui ir ao seu computador situado na sua secretária logo à entrada e desbloquear os sites de redes sociais virtuais, de partilha de ficheiros e canais de vídeo que a escola bloqueava para evitar que os alunos fossem mais aplicados nos deveres escolares para que não ficasse registada a minha pesquisa. Sempre que acontecia este desbloqueamento, era accionado uma espécie de aviso como se fosse o de um vírus nos computadores dos professores de informática e responsáveis e estes tratavam logo de repor esta restrição de sites, o que fazia com que todos os sites a que se fossem durante esse período de tempo não fossem registados no sistema informático. Sempre achei isto estúpido, mas de acordo com o que Bennet Kevins, o típico “cromo de informática” da turma, me dissera numa vez em que tive de fazer um trabalho com ele há quase um ano, os responsáveis pelo sistema informático não sabiam, de facto, muito sobre esse tipo de medidas.
            Assim sendo, procurei o melhor que consegui sobre o massacre de que Lewis me perguntou e descobri que foram mortas nessa quinta cerca de trinta pessoas e que o assassino usava uma máscara feita de pele humana, bem como uma serra eléctrica. Porém, a pessoa que fora presa e apelidada de        “Leatherface” não era o verdadeiro assassino. Mesmo assim, depois de ter corrido um monte de páginas no motor de busca, não encontrei muito mais sobre o caso.
            Durante cerca de duas horas, andei a procurar sobre não só este caso de 1973 como também me lembrei de ir procurar mitos sobre vampiros, as minhas figuras fictícias preferidas. Sempre que estava na Internet, era rara a vez que trabalhava afincadamente e em vez disso, procurava sobre temas que me interessavam. Nessa tarde, foram os monstros sob forma humana adeptos dos bancos de sangue que me vieram à mente. Na blogosfera encontrei pouquíssimo sobre características de vampiros, tudo o que os autores publicavam eram sugestões de livros sobre vampiros, séries, filmes e até desenhos animados e bandas desenhadas japonesas, bem como críticas. Em suma, na minha ida à Internet ganhei uma lista de sugestões literárias gigantes. Também havia tentado procurar algo sobre Aline Yevenko, mas tudo o que encontrei foram ligações a perfis de redes sociais de pessoas da Ucrânia, Roménia, Brasil e outros países, referencias a celebridades e outras coisas inúteis.
            Já Lewis preferiu ficar de volta dos livros sobre mitos antigos e jornais da década passada. Não lhe fiz perguntas acerca da utilidade da sua investigação, mas fiquei com a sensação de que não serviu de nada aquela ida. Também ele poderia ter conseguido muita informação a julgar pela quantidade de livros e jornais que vi no carrinho onde se depositavam os livros usados para posterior arrumação que estava perto da sua mesa, que estava quase vazia quando chegámos e que ele enchera quase por completo enquanto ali estivemos.
            O que me deixou a pensar fora o bizarro que aquele massacre fora. Apelidaram-no de "o mais grotesco caso de assassinato em massa de todos os tempos", mas parti do princípio de que a questão de os Estados Unidos serem arrogantes ao ponto de massacrarem pessoas do Médio Oriente sabe-se lá porquê não passa pelas cabeças das pessoa do século XXI, assim como também não entendi para que é que Lewis queria saber sobre a carnificina do Texas.
            Mas quando me lembrei da arma que ele me tinha dado quando ele se “mudou” para a casa da minha avó, quase que deixei o copo que tinha na mão cair no chão. Será que ele estava a planear algo tão grande como aquele massacre? Para que é que ele queria saber tanto sobre aquele caso e que conexão terá com o objecto da sua investigação?
            Para minha alegria, fiquei nessa noite encarregue de entregar os pedidos, mas assim que me veio a ideia de que Lewis fosse uma espécie de assassino e estivesse com ideias de me matar, andar a servir as pessoas deixou de ser algo tão confortante, passando a ser uma forma de não roer unhas e mais um meio para praticar a minha capacidade de separar a minha expressão facial do que estava a pensar.
            Estava a servir o último prato de hambúrgueres vegetarianos a um casal quando sinto o corpo todo estremecer continuadamente, parecia que tinha sido ligada a uma máquina de fazer choques. Ao chegar ao interior do balcão, sinto o coração abrandar perigosamente o ritmo quando me deparo com a figura de Lewis a entrar no bar envergando um casaco preto a combinar com calças também pretas e uma camisola às ricas pretas e vermelhas com o símbolo de uma banda chamada Devil Wish. Sorriu ao dar-se comigo a observá-lo e sentou-se no balcão à minha frente.
            Tentei engolir o nó que me apertava a garganta e tentei parecer sincera no sorriso que retribuía.
            - Olá Cassandra. – Cumprimentou ao colocar os braços sobre o balcão.
            - Ola, Lewis. O que fazes aqui? – Disse, no que me soou mais uma pergunta de quem se encontra morta de medo do que propriamente alguém agradavelmente surpreendido. Ele pegou-me na mão e beijou-a não tirando os olhos dos meus. Aquilo soou-me a algo parecido com um sinal de que se tinha deparado com a vítima ideal para a noite de Verão.
            - Vim ver como estavas. – O seu sorriso desapareceu gradualmente à medida que olhava para mim. – Mas pelos vistos fiz bem em vir.
            - Porquê? – Perguntei tentando reprimir de novo o nó na garganta.
            - Tu não estás bem. Estás nervosa e preocupada com algo. Está estampado na tua cara.
            Desviei o olhar sintonizando-me acidentalmente com um rapaz ainda adolescente a apontar a palhinha para a sua irmã à sua frente e disparar o plástico que embala a palhinha para ela com um sopro e acertando na sua cabeça. Ela virou-se para ele e praguejou, fazendo-o rir dela. Foi o suficiente para poder relaxar um pouco, mas não muito dado que estava a falar com um aspirante a possível assassino.
            - Quem, eu? Não, eu estou óptima Lewis. – Ele ia ripostar, pelo que me apressei a calar-lhe a boca. – O que queres tomar?
            - Um copo da melhor vodka que tiveres.
            - Deixa estar, Cassie que eu trato disso. Vais ajudar a Louise na cozinha, por favor? – Perguntou Bryan, oferecendo a Lewis um olhar duro.
            - Claro, Bryan. – Disse, largando a mão de Lewis e avançando para a cozinha sem olhar para trás. Ao passar por Bryan, ele agarrou-me no braço suavemente e perguntou perto do meu ouvido.
            - Ele está a importunar-te?
            - Não, ele está comigo Bryan. Fique descansado quando digo que ele não me está a chatear. – Respondi, olhando para ele surpreendida.
            - Está bem. Vai lá ter com a Louise que se precisar de algo chamo-vos. – Respondeu com um sorriso apaziguante.
            Louise tinha apanhado o cabelo num penteado oriental preso com pauzinhos, como se fosse uma geisha. Quando me viu, estava ela a por louça a lavar na máquina e tinha posto uns sacos de lixo cheios perto da máquina.
            - Ah, Cassie, ainda bem que vieste querida. Preciso de ajuda para levar estes sacos para a rua.
            Sorri-lhe, mais irritada com a alcunha do que propriamente por simpatia, mas despistada como ela parece ser, não reparou.
            - Claro Louise.
            Ela virou-se para mim e pôs as mãos nas ancas, analisando-me com uma cara muito estranha.
            - O que é, Louise? – Perguntei.
            Ela estalou a língua e abanou a cabeça.
            - Onde cortaste esse cabelo, rapariga? – Perguntou.
            - Na minha casa de banho, há já mais de vinte e quatro horas, Louise.
            Ela voltou a estalar a língua e a olhar-me com cara de sermão.
            - Ah, rapariga. Para poderes ter essa franja tinhas de ter escadeado um pouco o cabelo. Essa melena já não tem corte há quanto tempo, mulher?
            Franzi o sobrolho enquanto pensava.
            - Por acaso, nunca o cortei, Louise.
            Ela escancarou a boca num “O” perfeito e esbugalhou os olhos.
            - Eu não posso ter ouvido bem… O que disseste?
            - Que nunca cortei o cabelo na vida.
            - Ai, Meu Santíssimo Deus. – Praguejou incrédula. – Isso é um milagre, Cassie! – Agora parecia efusiástica, o que se tornou muito assustador para mim. – Esse cabelo nunca se cruzou com uma tesoura? A sério?
            - Tão a sério como serem agora nove e meia da noite, Louise. – Por acaso o relógio da cozinha apontava para as nove e um quarto. Olhei para o meu relógio no pulso de relance e afinal tinha-me enganado nas horas. – Aliás, nove e um quarto. – Corrigi. Mas não menti quando lhe disse que nunca o tinha cortado.
            - Não estás a mangar comigo, Cassie? – Perguntou virando a cara até ficar a três quartos para mim e erguer a sobrancelha direita enquanto semicerrava o olho esquerdo. Abanei a cabeça. Ela saltitou para trás de mim.
            - Nunca conheci ninguém que nunca tenha cortado o cabelo! Que maravilhoso! E nunca te cresceu mais do que isto? – Tagarelou enquanto pegava numa grossa madeixa do meu cabelo e o esticava a fim de ver que chegava quase à zona das ancas. Ela assobiou mal em forma de elogio.
            Bem me parecia que aquilo me estava a assustar um pouco.
            Aclarei a garganta.
            - O que achas de irmos por o lixo lá fora, Louise?
            - Claro, claro. – Respondeu automaticamente ainda absorta no meu cabelo.
            - Então, vamos lá ser úteis esta noite, sim? – Disparei avançado para os sacos. Eram dois grandes sacos pretos quase do tamanho de um marco londrino dos correios, não admirasse que Louise precisasse de ajuda naquilo. Como ela era muito bem-disposta, ela saltitou de novo para o ofício. Louise era conhecida como uma das raparigas mais belas de Old Springs, mas como é de esperar, só os tarados é que têm como ocupação dos tempos livres a atribuição destes títulos. Para mim, Louise era como uma rosa: linda, resplandecente, recatada, talvez tímida e delicada, mas assim que começassem a abusar da sua boa disposição, ela era capaz de correr com um obeso mórbido e bêbedo do Old Burger com os olhos à panda, dentes à vagabundo e mais umas nódoas negras. Quando era pequena, lembro-me de a ver no pavilhão da escola nos grupos de artes marciais, bem como os de ballet, nas quais sempre fora muito boa. Mas tirando os seus espinhos, como aquele a que acidentalmente presenciei quando ela ajustou contas com um ex namorado que a havia traído. Deu-lhe uma valente sova nas traseiras da escola há cerca de três anos, era ela finalista, mas como Greg Stevens era parvo e achava-se o melhor a coleccionar relações de vinte e quatro horas, chamou os seus amigos logo de seguida para darem a Louise uma pequena lição e o resultado, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, resolvendo-se em poucos minutos, com ela a deitar abaixo o círculo que os seus amigos fizeram em volta dela – uma excelente exibição da sua capacidade de juntar o ballet com a luta e que me deixou parva -, era notória nela a comparação com uma rosa: linda, simpática, amável, prestável e com pequenas pitadas de boa disposição e de um pouco de loucura, mas tudo contraposto com uma capacidade de castrar os homens que a irritassem. Louise comportava-se como uma rapariga dois anos mais nova do que eu e era, de facto, um doce de pessoa.
            A rua por trás do café não é das mais simpáticas à noite: é extremamente fria e um tanto ou quanto escura demais. Não me metia medo, muito pelo contrário, mas naquela noite, quando ia para o contentor do lixo por o saco, senti algo estranho e nada bom no ar, talvez até semelhante ao que tinha sentido quando os meus olhos embateram naquela visão da mulher de olhos vermelho sangue, sem enjoos. Esse episódio não fora muito simpático, mas o que achava que era mau tinha-se tornado até bom de certa forma. O ar era leve mas gélido como o que uma arca congeladora e os sons pareciam-me carregados, como se de repente pudesse captar sons até da outra ponta do parque perto do café.
            Assim que consegui mandar o saco para o interior de um contentor gigante mais preto do que verde, ouvi uma movimentação que pertencia a uma terceira pessoa.
            - Ora, ora, ora. Quem temos aqui? – Gracejou uma voz profunda e animada mas cujo corpo não me era possível ver, até porque o meu olhar ainda estava encadeado com a luz de um candeeiro. Louise tomou logo um lugar à minha frente, avançando com graça, classe e charme, mesmo com a farda de trabalho. Já estava habituada a cenas daquele género.
            - É verdade, quem raios temos nós aqui? Já ouviste falar num local chamado asilo de sem abrigos, ou caso sejas mais “abonado”, de um cubo de tijolo chamado casa, ó alcoólico? – Retorquiu Louise com um sorriso de desdém estampado na cara. Percebi que estava já pronta para mandar o homem ao chão… caso o meu olhar já não se tivesse habituado à escuridão. Assim que comecei a ver melhor, percebi que o homem que falava era um oponente à altura, senão capaz de deitá-la ao chão mais rápido do que ela.
            - Por acaso, já ouvi falar desses termos sim – Começou o homem ainda mais divertido do que antes. -, mas sabes, à noite dá-me mais gosto estar fora do abrigo e andar pelas ruas à procura de alguém como vocês as duas.
            - Isso vamos ver. – Tornou Louise. – Cassie, cvai para dentro querida.
            Antes que pudesse dizer algo, senti o olhar dele, azul gelo com raios vermelhos a tingir o gelo como se estivesse congelado, a pairar sobre a minha figura e, não sei se por me ter de certa forma assustado tanto ou por outro motivo qualquer, tentar mover seja que parte de mim fosse do pescoço para baixo era o mesmo que mover uma montanha.
            Louise não se apercebeu desta minha nova incapacidade pois estava já a investir nele, mas sem sucesso. Não gostei nada de o ver a sorrir a cada ataque dela pois isso significava que tinha um trunfo na manga muito perigoso e contestar isso não demorou muito: num par de segundos, ele apanhou um braço dela, levou-a a dar uma volta de forma a prender o mesmo nas suas costas e com a mão esticada como uma espada, bateu de lado na base do pescoço da jovem, fazendo-a desmaiar. Tal como pensava, foi obstáculo pequeno para ele. Assim que a deixou cair, virou-se para mim e caminhou na minha direcção. Claro que eu estava assustada, com a intensidade que me pareceu que ele tinha recorrido para fazer Louise desmaiar, acabar comigo era uma coisa rápida como o ligar e desligar de uma luz. Mas mesmo assim, não se aproximou o suficiente para ser exibido pela luz do candeeiro.
            - Finalmente nos encontramos passados quê? Dez anos? Mais? – Falou numa espécie de sotaque asiático, com classe. Era ele o homem de quem me lembrei de manhã, quando atacou a minha mãe e depois a mim. – Não interessa. O que interessa é que finalmente nos vemos de novo, querido prodígio. – Ao ver o meu choque, lançou uma pequena gargalhada. – Sim, sou eu mesmo. Tiveste saudades minhas?
            - Quem és tu e o que queres de mim? – Perguntei com azedume e raiva.
            - Oh, que menina tão azeda. Isso faz mal à saúde, jovem. Eu apenas vim ao funeral dos teus pais. A tua mãe era-me muito especial, se bem que para ela não pareceste sê-lo. Mas sabes, cada vez mais começo a acreditar naquela expressão do “cá se fazem, cá se pagam”. – Disse, esfregando as mãos, pálidas, uma na outra e depois passando por uma espécie de crista longa, loura e vermelha quando esta embateu de relance na luz, como que para ter a certeza de que a tinha no sítio ainda. – Mas sabes, naquela noite soubeste-me melhor do que ela, e arrumar este “assunto” foi um instantinho. É pena que o teu amigo, aquele com quem divides casa, seja o culpado aos olhos de todos.
            - Do que estás a falar?
            - Ah, tu não sabes? – Perguntou com falsa surpresa. – Ah, deixa estar, em breve saberás tudo. Estás perto.
            - O que fazes tu aqui? – Perguntou Lewis, sinceramente irritado, precisamente atrás de mim.
            - Oh, jovem Desdrov, que saudades que eu tinha dos representantes do teu clã… antes de se desprestigiarem com uma ninhada de mestiços.        
            - Sabes que, mesmo apesar de desprestigiada, ainda estás interdito a comparecer à presença de qualquer membro dos Desdrov, Kiachi. Desaparece.
            O homem que estava à minha frente calçou umas luvas brancas e simulou uma vénia, dando-nos de novo um relance da crista loura e vermelha. Ao erguer-se, consegui ver que os olhos, rasgados orientalmente, tinham uma cada cor diferente, um vermelho raiado de gelo e outro vermelho e preto num padrão hipnótico, como se tivesse posto uma lente de contacto. O sorriso rasgava literalmente os lábios. Louise começou a mexer-se de novo. Graças aos céus. Afinal só tinha desmaiado.
            - Claro, menino Desdrov. – Tornou Kiachi sarcasticamente. – Até breve – Disse lambendo os lábios com o olhar a coincidir na minha figura. – Querido prodígio.
            - Estás bem, Cassandra? – Perguntou Lewis, alterando nitidamente o tom de voz para um atencioso e delicado.
            Sem me aperceber tinha voltado a respirar e sentia-me livre de novo. Consegui sentir um cheiro estranho no ar assim que me apercebi de que o tal Kiachi já não estava naquela rua.
            - Estou intacta. Que cheiro é este, Lewis?
            - Ópio e tabaco. – Respondeu secamente. – É a mistura preferida dele, do Kiachi.
            - Quem é ele?
            Lewis não me pode responder pois Louise levantou-se praguejando em francês.
            - Céus, como é que ele conseguiu acertar-me naquele ponto? Foge, estou toda dorida no local onde ele me bateu. – Ela olhou para nós e lançou-nos um sorriso deveras malandro enquanto olhava para um e para outro alternadamente. – Bem, Lewis, como chegaste aqui?
            Lewis inclinou respeitosamente a cabeça para ela e respondeu com um sorriso contido, educado.
            - Pode-se dizer que consegui convencer o teu oponente a deixar-vos as duas em paz, Louise.
            Ela ficou especada a olhar para nós mas ao mesmo tempo sem olhar directamente.
            - Céus, tu conhece-lo, Lewis?
            - De certa forma e infelizmente, sim.
            Ela escancarou a boca num perfeito “O” de admiração.
            - Tens de me apresentar a ele.
            - Espera lá um pouco, Louise – Disse-lhe eu. – Tu não ias com a cara dele, porque queres agora conhecê-lo?
            - Porque ele é muito bom a pôr as pessoas inconscientes!
            Fiquei como uma parvinha a olhar para uma recém candidata a um manicómio e treia-me lançado numa desnecessária discussão se Lewis não se tivesse intervido.
            - Bem, porque não vamos para dentro? Vocês precisam de trabalhar e eu deixei uma Vodka por beber.
            Louise foi à frente, ainda atónita com a situação apesar de, felizmente, não ter apanhado a parte mais importante e constrangedora do sucedido. Afinal tinha sido aquele tal de Kiachi que me ferrou os dentes naquela altura, na última noite em que a minha mãe tinha sido minha mãe.
            Mesmo assim, Lewis não me tinha respondido à pergunta porque a fora beijado pela sorte e porque Louise lembrara-se de despertar do seu desmaio antes de ele me responder, por isso esperei uns segundos, os suficientes para a minha colega de trabalho seguir em frente, para encará-lo de novo sem ser ouvida.
            - Conheces aquele tal de Kiachi, Lewis?
            - Trabalha para a Yevenko. É, de certa forma, um caça talentos.
            - Caça talentos?
            - Depois explico-te. Eu fico à tua espera.
            - Como?
            - Eu fico no bar até terminares o teu turno.
            Acenei com a cabeça e comecei a ver tudo à roda. Louise estava de volta ao trabalho, mais precisamente a colocar a louça suja na máquina de lavar, mas rapidamente comecei a ver mais do que uma Louise, mais do que uma máquina de lavar louça, mais do que uma cozinha de bar. Depois vi tudo a subir, tão depressa que nem me apercebi de que estava cair, tão rápido que só me apercebi de que estava prestes a bater com a cabeça no chão, tão forte que só reparei nisso quando senti a doce frieza dos braços de Lewis sob o meu corpo a amparar-me a queda.
            Antes que começasse a ver o mundo em preto, vi a cara de Lewis, perfeita mesmo embebida de preocupação e estranheza emoldurada por uma cortina de cabelo castanho-escuro perfeita e pouco ondulado. Mal ouvi o meu nome quando senti as pálpebras, pesadas, a cessarem para se abrirem passados poucos segundos, mas de uma forma diferente.
            Em vez de ver tudo com os meus olhos e sentir com o meu corpo, entrei numa espécie de outra dimensão onde podia ouvir até coisas a mais. Levantei-me num instante e olhei em volta. Louise estava deveras preocupada mas a voz de Lewis fez-me voltar para trás.
            - O que tem ela, Lewis? – Perguntava ela nitidamente alarmada. Olhava para algo atrás de mim, que me fez lembrar que Lewis estava a andar de volta para a rua. A carregar-me nos seus braços.
            - Ela está mal disposta e teve umas tonturas, Louise. Continua a trabalhar que eu vou ver se ela melhora com um pouco de ar fresco. – Respondeu-lhe ele, fechando a porta atrás dele. Instintivamente, fui a correr atrás do meu corpo e de Lewis, sem saber bem ao certo como pude atravessar a parede e suportar a corrente fria daquele beco.
            - Vamos lá ver uma coisa, o que raio se está a passar? – Exclamei para Lewis que caminhava com um passo contidamente apressado. Virou-se para trás e fui assolada por uma sucessão de frases.
            É tão leve e tão carinhosa, como consegue ela deixar-me tão calmo e tão agitado só com um vislumbre dos seus olhos e do seu sorriso tão caloroso? Não posso estar apaixonado, não agora que estou tão perto… De repente veio-me uma imagem que nunca vira, mas cuja pessoa que estava a ver e a ouvir conhecia tão bem, a minha avó nos seus últimos dias de vida. A pessoa que estava a ver não era definitivamente eu, pois nunca consegui e dificilmente iria conseguir uma proeza como saltar do jardim para o quarto da minha avó, que se encontrava recostada na cama a ler uma folha.
            Lewis, querido,ainda bem que pudeste vir. O tempo escasseia e já temia não te ver mais nesta vida, meu amigo. Ouvir a voz da minha avó, tão nítida como se estivesse viva, abalou-me e ao olhar para o meu corpo reparei que esbarravam algumas lágrimas dos meus olhos. A imagem continuou e esbateu-se quando a minha avó disse Lewis, tu sabes que ela tem potencial, caso contrário não teria havido tanta atracção naquele dia em que a viste, e além do mais, sabes que ela fora concebida para ti. Cabe-te a ti protegê-la dos Yevenko, sabes que ela é um achado histórico na vossa sociedade. Não tornes o teu amor no teu pior inimigo.
            Lewis, tinha eu percebido agora ao reparar que, quando se curvou, pousou uma mão, tão familiar para mim, no cabelo longo, sedoso e grisalho da minha avó, colando delicadamente um beijo respeitoso na testa. Prometo, senhora Janette. Não a desiludirei. Vemo-nos na próxima vida, dissera ele.
            Comecei a chorar, escondendo a cara nas mãos. Tudo o que via naquela escuridão precária era o meu corpo sobre os braços de Lewis, a deixar as lágrimas esbarrarem pela minha cara, humedecendo o meu cabelo. Tudo o que conseguia ouvir era o ritmo de um coração e os passos de alguém a aproximarem-se cada vez mais de mim.
            - Estás bem… - Perguntou a voz de Lewis. Levantei a cabeça e ambos ficámos parvos a olhar um para o outro. Estava de volta ao meu corpo e estava a olhá-lo de baixo enquanto ele se curvava sobre mim. A sua mão aproximou-se da minha fronte e os seus dedos tocaram nas minhas lágrimas. O choque, pensei eu, devem de ter sido a causa da paralisação que o afectou.
            - O que… - Perguntei sem conseguir acabar devido ao choque que senti quando ele baixou a sua cabeça até a testa tocar a minha. Olhei para os seus olhos fechados num misto de compaixão e dor.
            Não posso deixá-la agora que ela consegue o que consegue. Não posso deixá-la agora que sei que é ela. Não agora que sei porque me prendo a este porto, pensava ele. Foi então que percebi que ouvia os seus pensamentos.
            - Não é nada de especial. Apenas me preocupo contigo. – Sussurrou-me, a boca demasiado perto da minha. Perigosamente perto da minha. Fechei os olhos deixei as minhas mãos enterrarem no seu cabelo espesso e sedoso. Sim, pensou ele enquanto esboçava um sorriso nos lábios e me apertava suavemente contra si como se estivesse a apertar um balão sem rebentar com este.
            - Obrigada pela preocupação. – Respondi como uma estúpida. Estúpida porque senti o exacto medo que senti quando ele entrou no bar…
            - Não tenhas medo. Estou aqui para te proteger. – Disse passando a mão pela minha coluna, arrepiando-me enquanto deslocava a sua cabeça até os lábios tocarem os meus, somente um toque que me fez querer mais do que um simples toque, mas nada fiz, pois o que me disse calou-me até a libido. – Podes escrutinar tudo o que for meu… até as minhas ideias. – Enquanto voltava a passar a mão pelas minhas costas e tocava os meus lábios com os seus, imaginava e atribuía objectos, sensações, visões a tudo o que sentia com o seus tacto, mesmo num convite a escrutinar a sua mente.
            Mas tudo estava a ser demasiado confuso para mim.
            - As tuas ideias? Como assim? – Perguntei num sussurro.
            Tu consegues captar os meus pensamentos. Eu sei disso tudo, das coisas esquisitas que tens tido ultimamente e das que te têm acontecido, principalmente quando fugiste para casa da tua avó.
            - Desculpa lá… o que estás para ai a falar? – Disparei, remexendo-me de modo a escapar dele, mas ele apertou-me contra ele. Pelos vistos já não era como apertar um balão.
            - Eu não falei, pensei. – Respondeu aproximando a minha cara da dele. – E tal como pensava, tu ouviste o que estava a pensar. Assim como deves de conseguir captar isto. – Deu-me um beijo longo, arrastado e demorado no pescoço, doce e quente, tão carinhoso e abruptamente intenso que me fez estremecer e agarrar com mais força o cabelo dele e atrair a sua boca ainda mais para mim. Desconcertada como estava, conseguia captar tudo, incluindo o que aparentemente conseguia agora, e como tal consegui sentir fisicamente o arrepio que percorreu a sua coluna e mentalmente o aprofundamento deste na mente de Lewis; fez questão de continuar a recordar o arrepio que teve mesmo para me provocar.
            - Que raio vem a ser isto, Lewis?
            - Algo que poucos têm. – Tornou a olhar para mim, mas o carmim que estava a iluminar os seus olhos assustaram-me e paralisaram-me.
            - Não gosto lá muito desse olhar que tens agora. – Recomendei.
            Em resposta, ele fechou os olhos e desviou a cara sem me questionar do que estava a falar.
            - Desculpa-me se te assustei, Cassandra. – Disse num tom calmo mas que não tinha as mesmas repercussões no que estava a ver. – Talvez deva ir para casa. – Deixei-me levar mais uma vez, lamento. Pensou enquanto me levantava. Passou a mão pela minha cara, demoradamente, deixando-me com pena dele. – Não, por favor, não mereço isso, Cassandra. Não de ti. – Sussurrou, abraçando-me fortemente antes de sair do beco num passo casual.
            Fiquei ali a olhar para ele até ter dobrado a esquina e sustive o meu olhar naquela quina de tijolo à espera de algo que nem eu mesma sabia o que era. Que se estava a passar? O que se estava a passar comigo?
            - Estou a ver que aparentemente estás melhor. – Disse alguém atrás de mim. Virei-me e deparei-me com Louise encostada na ombreira da porta. Acenei-lhe e perguntei-me o que terá ela visto. – Vá, anda daí rapariga que o Bryan já está a ficar todo stressado.
            O Bryan! Como me esqueci dele! Fui logo a correr para o balcão, mas felizmente não havia muito movimento e andava o meu patrão a limpar as prateleiras das bebidas.   - Cassie, andaste a fabricar os contentores ou o quê? – Perguntou sem olhar para mim. – Passa-me aí essa garrafa, se faz favor.
            - Desculpa Bryan. Tive de ir apanhar um pouco de ar, estava mal disposta. – Retorqui, um pouco embaraçada. Passei-lhe a garrafa e ele olhou-me com atenção.
            - Não te preocupes, jovem. Hoje está um pouco parado, talvez feche até mais cedo. Além do mais esta mudança de estação nunca foi fácil nesta terra.
            Assenti e continuei a ajudá-lo. Passados poucos segundos ele voltou a falar.
            - O Desdrov não vem?
            - Porque perguntas, Bryan?
            - Nada de especial. – Respondeu a encolher os ombros. – Estava curioso porque ele saiu um pouco à pressa.
            - Não sabia que conhecias o Lewis. – Disse indiferente.
            - Conhecia-o de vista.
            - Mesmo?
            - Sim, ele era muito conhecido na Rússia. Acho que os pais dele tinham umas quantas discotecas em Moscovo e eram muito influentes nessa cidade. – Virou-se para mim e piscou-me o olho. – Gosto do norte da Europa.
            Não confies em ninguém… Tens algo que muitos querem e poucos têm…, sussurrou uma voz qualquer na minha cabeça e continuou a repetir-se na minha cabeça enquanto a noite prosseguiu.

2 comentários:

  1. estou a gostar imenso da tua história, deixa uma pessoa totalmente colada ao ecrã.
    vou começar a passar pelo teu blog à espera de encontrar mais capitulos

    ResponderEliminar
  2. Vim agradecer o elogio e desejar-te também o melhor para o futuro da tua história...
    Mais uma vez digo que vou passando por cá e assim que postares deixarei um comentário com a minha humilde opinião.
    Obrigada, bj*

    ResponderEliminar